Archive for the 'História' Category

16
maio
10

Ai Inochi Sakurai

Origem

Sua origem é da casta dos Samurais. A data de seu nascimento é incerta, alguns pesquisadores datam seu nascimento por meados de 1583, na província de Mimasaka no Japão. Seu Pai era um Bushi e sua mãe uma Ninja Kunoichi.

Infância e Adolescencia

Sua infância foi complicada, criado no meio de duas castas opostas teve que aprender filosofias conflitantes. Uma educação dos Bushi e dos Shinobi. Ao chegar na fase adolescente Sakurai fez sua opção pela casta dos Shinobi trabalhando para a família de sua mãe durantes anos.

Adulta

Ao chegar na fase mais adulta por volta dos 30-35 anos deixou sua província para viver com os Monges Yamabushi. Descidido a aprender segredos de diversas áreas se especializou na área da vida e da mente. Quando voltou do isolamento com os Yamabushi, Ai Inochi Sakurai portava duas Tora-No-Maki, correspondente a VIDA e MENTE. Em sua fase adulta fez uma peregrinação por todo o Japão mandando Tegami (carta) a varias pessoas, falando sobre saúde, aconselhamento e sociedade.

Fase Negra

Como todos seres humanos Sakurai teve seu lado negro. Como especialista em assassinatos na adolescência, foi responsável por vários assassinatos em Kyoto e em Osaka. Lutou em Sekigahara pela colisão de Tokugawa e matou centenas de estrangeiros no Sakoku. Após perder uma luta para um desconhecido de sua terra natal foi morar junto aos Yamabushi.

Palavras de AI Inochi Sakurai

Algumas Citações de Ai Inochi Sakurai em suas Tegami.

“Viva como se fosse uma estrela a cortar o céu negro e busque o conhecimento como se fosse uma cerejeira centenária, cujas flores geram esplendor e admiração no mais frio homem como na mais quente mulher.”

“A Mente é base do Espírito e da Alma, assim como o corpo é sua morada.”

“Uma mente que não teme criar é uma mente bela e bem construída em sua infância”

“Um homem que não trabalha seu corpo não consegue trabalhar a mente pois um depende do outro para evoluir e ascender”.

“Os pés nos levam para o monte, os olhos contemplam o horizonte, a mente guarda toda a fascinação do momento em nossos corações”

“Os seres humanos são imperfeitos, problemáticos e confusos. Por isso admiro o ser que o criou pois soube fazer cada um diferente do outro, dando a todos nós a oportunidade se ser especial.”

“ Amar é escolha racional, nós escolhemos amar uma mulher por suas qualidades e sua beleza. O homem que diz que o coração o controla é fraco e futuramente um escravo da infidelidade. Pois amar, felicidade e benevolência, são ações que nascem em nossa vontade e se transforma em atos de sabedoria quando temos coragem de assumir as conseqüências.”

Existem vários fragmentos de Ai Inochi Sakurai, fragmentos que falam sobre muitas coisas desde Amor, passando pelo corpo humano e administração familiar até sobre táticas de guerra e assassinatos.

16
maio
10

Hiragana e a literatura

A necessidade de expressar livremente os sentimentos do povo japonês impulsionou a escrita e a literatura da Era Heian, dominada pelas grandes mulheres
Por que surgiram os fonogramas hiragana e katakana?
Os japoneses não conheciam a escrita até ter os primeiros contatos com a cultura chinesa, por volta do século V. À medida que os japoneses foram dominando a escrita (kanji ou ideogramas), a língua e a literatura chinesas, eles começaram a sentir as limitações de se adotar essas formas de comunicação de um outro povo. Assim, para atender à necessidade de expressar livremente os sentimentos do povo japonês por escrito, foram criados os fonogramas hiragana e katakana, elaborados a partir do kanji.


Origem de Man’yôgana
Durante muito tempo, os japoneses liam os kanji à moda chinesa e tentavam entender o significado de cada letra, já que os kanji são ideogramas, ou seja, a transcrição da idéia e não do som, como é o caso da maioria das letras existentes. Pouco a pouco, os japoneses passaram a escolher a palavra adequada para cada kanji e lê-lo à moda japonesa. Por exemplo, o kanji que significa inverno é , sendo a leitura chinesa “dong”; porém, como em japonês inverno se diz “fuyu”, o kanji passou a ser lido “fuyu” também.

À medida que as palavras japonesas também foram filtradas e unificadas, os japoneses tiveram a idéia de transcrevê-las aproveitando apenas o som, ou seja, a sua leitura, desprezando a idéia ou o significado do kanji. Por exemplo, “hana” (flor – ) passou a se escrever também , já que tem a leitura “ha” e , a leitura “na”. Esses ideogramas (kanji) empregados apenas como fonogramas receberam o nome de man’yôgana, já que foram utilizados na transcrição dos poemas japoneses reunidos na antologia intitulada Man’yôshu.


Criação do hiragana
A caligrafia empregada deixou de ser letras de traços retos e definidos, adotando o estilo cursivo, o chamado sôsho-tai, criado na China. Porém, no Japão, o estilo foi adquirindo características próprias, “simplificando” de tal forma os kanji a ponto de ficarem bem diferentes das letras originais. Desse estilo cursivo “simplificado”, nasceu o hiragana. Assim, o hiragana é um conjunto de letras mais curvilíneas.


Criação do katakana
Assim como o hiragana, o katakana também foi criado a partir dos kanji, mas possui características diferentes. O katakana surgiu como sinais gráficos para auxiliar na leitura de textos chineses, ou ainda, para serem inseridos nos poemas ou textos em estilo chinês, a fim de facilitar sua leitura e compreensão. Essas “letras complementares” ofereceram aos japoneses uma maior expressividade, já que podiam escrever com maior desenvoltura até diferenças delicadas e nuanças dos sentimentos.

O katakana foi criado com base em uma parte dos kanji, por isso seus traços são mais retos e rígidos.

O uso tanto do hiragana como do katakana consolidou-se no início do século X, em meados da Era Heian, e são empregados até os dias de hoje, concomitantemente com os kanji.


A literatura em kana = literatura da nobreza
Após a criação dos fonogramas kana, a literatura entre os nobres conheceu o seu apogeu, constituindo a era áurea dos waka – poemas japoneses. Esses poemas que enaltecem a natureza, as diferentes facetas das quatro estações e os elementos da natureza foram criados graças à existência dos kana. O modo de expressão dos poemas contribuiu muito na formação da consciência estética dos japoneses. Nos palácios do imperador e dos nobres, as reuniões para compor e apreciar os poemas tornaram-se cada vez mais freqüentes, deixando de ser apenas um simples passatempo das mulheres. Saber compor poemas tornou-se um importante requisito para manter um convívio social entre os nobres da corte. A falta de interesse pela política ocorreu na mesma proporção em que se ampliou o círculo literário da nobreza.


Obras clássicas
O Tosa nikki (Diário de Tosa) foi escrito por volta do ano 934, por Ki-no-Tsurayuki e incentivou muitas mulheres a escreverem diários, estimulando a criação de muitas literaturas do gênero.

Genji-Monogatari (Contos de Genji), escrito por Murasaki-Shikibu, por volta do ano 1001, é conhecido como uma obra literária clássica de maior volume. Descreve a elegante e requintada vida da corte, os sentimentos do personagem principal, Hikaru Genji, em relação às mulheres com quem se envolve e as intrigas pelo poder. Não se trata de uma simples ficção, mas se observa a preocupação de descrever os usos e costumes, assim como os pensamentos da Era Heian.

Makura-no-sôshi é uma crônica escrita por Sei-Shônagon sobre a vida na corte, que descreve de forma vivaz, com sensibilidade aguçada e com genialidade, os hábitos do cotidiano da corte.

Kokin Waka-shû é uma antologia de 20 volumes que reúne 1.100 poemas compilada por ordem imperial (chokusen-shû), datada do ano de 905.


Rivalidade entre duas literatas
Tanto a autora de Genji-Monogatari, Murasaki-Shikibu, como a de Makura-no-sôshi, Sei-Shônagon, pertenciam à classe média da nobreza e serviram à família imperial na mesma época. Foram duas mulheres que lideraram as tertúlias realizadas na corte. Sei-Shônagon possuía gênio forte, fazendo questão de exibir o seu talento. Murasaki-Shikibu, uma mulher mais recatada e retraída, escreveu críticas severas em relação a essa atitude “exibicionista” de Sei-Shônagon em seu diário.

Por serem os poemas a forma de literatura mais valorizada na Era Heian, as obras dessas duas mulheres, mesmo conquistando muitos leitores, ficaram relegadas a um segundo plano, encaradas como um passatempo de mulheres da corte. Ainda assim, a literatura da Era Heian floresceu graças às grandes mulheres.

03
abr
10

shushi não é sashimi

Dentre os que gostam muitos não sabem a diferença entre sushi e sashimi. Eu tinha postado um link sobre isso em 2003 mas o site saiu do ar. Por coincidência, desde terça-feira tem chovido gugonauta no PdBUT justamente procurando por isso – eu desconfio que é por causa da 11ª prova do Aprendiz 5, niqui a tarefa era gerenciar um restaurante japonês em São Paulo.

Grossíssimo modo, a base do sushi é o arroz. Não existe sushi sem arroz [e do jeito que vão os preços do arroz tipo japonês no mercado, logo não existirá mesmo]. Na foto que abre este post estão dispostos alguns tipos de sushi; cada formato recebe um nome e, dependendo do recheio, ainda um outro nome. O enrolado fino com alga por fora com apenas um recheio é o hossomaki: se o recheio for de atum é o tekamaki, se for de pepino é o kappamaki, etc.

O oniguiri, que já mereceu post exclusivo no PdUBT, pode ser feito de arroz puro, recheado, coberto, grelhado… com umeboshi, com missô, com natoo, com ovas de salmão, com fatias de polvo, com sashimi – e talvez daí venha a confusão.

O sashimi – com SA de sapato, por favor, e não XA conforme ouço muito – [também grossíssimo modo] é peixe cru.

Os sashimis mais tradicionais no Brasil são os de atum [vermelho amarronzado], salmão [cor de… errr… salmão], cavalinha [carne branca com pele prateada], pargo… mas outros peixes de carne firme podem ser usados. Eu troco atum por tilápia a qualquer hora, por exemplo.

Tanto no caso do sushi quanto no do sashimi a apresentação bonita conta muitos pontos [a gente também come pelos olhos, né? às vezes até literalmente, quando enche a cara de saquê e cai de testa na mesa, mas xápralá].

Resumindo: nem todo sushi leva sashimi.

Outra confusão que bastante gente faz é achar que todo sushi deve ser molhado no shoyu: não. A intenção do sushiman é que a pessoa identifique, diferencie os sabores, até os mais delicados. Regar sushi com shoyu deixa tudo com o mesmo gosto; pra que se dar o trabalho de combinar os ingredientes então?

26
mar
10

O que é o Jodo ?

O que é o Jodo ?
(texto traduzido de:  The Evolution of Classical jojutsu, Dave Lowry )

Quando pensamos que é somente um pequeno pedaço redondo de madeira, fica mais intrigante ainda se imaginar que hiato fundamental o rígido jo preencheu na história e na evolução das disciplinas marciais do Japão. A espada comprida ou katana, foi a principal arma do guerreiro japonês e sem dúvida a mais desenvolvida em sua aplicação. A lança, que segundo a mitologia japonesa, foi banhada no vasto e nebuloso espaço vazio por um deus arcaico e de sua ponta alçada pingaram as gotas do firmamento que formaram as ilhas do Japão, tem uma conotação quase religiosa. E o bo, ou o bastão longo de madeira, é a arma mais antiga do Japão. Comparando, o humilde jo parece bastante plebeu. Mas, mesmo assim, o jo possui muito dos atributos de todas essas três reverenciadas armas: o golpe cortante da katana, a estocada da lança, e o golpe invertido e a indestrutibilidade do bo. Não é surpresa, portanto, que, com toda a sua simplicidade, uma vez começada a sua evolução, uma floresta de escolas e mestres logo apareceu para refinar e aperfeiçoar ainda mais o jo em uma arma formidável.

Traçar uma história do bastão curto em combate no Japão seria uma tarefa impossível, já que ela inicia no momento em que lá um aborígine pré-histórico empunhou para usar um pedaço de madeira morta. No Japão, com muitas florestas de carvalho e cedro, essa oportunidade deve ter ocorrido cedo e com freqüência. No entanto, não existem evidências quanto a existência de um método sistemático de combate com o bastão curto de madeira até a era Muromachi (1336-1600), quando a emergente classe dos samurai começou a incorpora-lo no primeiro ryu tradicional.

Quando o samurai usava o bastão de madeira, no entanto, ele escolhia quase que exclusivamente o bo, uma arma de comprimento entre 1,50 e 2,10 m, ignorando virtualmente qualquer bastão mais curto. Porque o jo era ignorado é um mistério, mas podemos aventar algumas hipóteses. Primeiro, o comprimento do bo fazia dele uma arma extremamente efetiva contra outras armas compridas como a lança e a naginata, ambas muito populares na época. Na verdade, em muitas escolas de bujutsu clássico o bo é empunhado e usado de maneira muito similar as técnicas com aquelas duas armas.

Dentre os primeiros ryu que incluíam o bojutsu em seu currículo estavam o Katori Shinto-, o Kashima Shinto- e o Takenouchi-ryu. O seu waza enfatizava o comprimento do bo, usando-o para atingir alvos distantes ou como um fulcro, girando-o numa velocidade terrível que podia fraturar ossos, assim como a espada de aço mais forte. Estima-se que ao fim da era feudal, por volta de 300 ryu tinham incluído o bojutsu em seu treinamento e mesmo aqueles bugeisha cujos estilos não incluíam o bo foram familiarizados com o seu uso e as melhores maneiras de se defender contra ele.

O bo típico, geralmente chamado rokushakubo, media em torno de 1,80 m, o que deve ser comparado com a estatura média do japonês naquela época, uns 30 cm mais curto. “Rokushaku” significa uma medida: um shaku equivale a 30 cm e “roku” é “seis”. A arma tinha um diâmetro um pouco maior de 3,5 cm. A maioria era maru-bo, circular. O hakaku-bo, no entanto, era octogonal e suas bordas angulosas e cortantes o tornavam brutalmente efetivo quando usado contra um alvo desprotegido. A maioria das técnicas usadas contra o bo envolvia o uso da katana para cortar o bo de madeira, reduzindo assim a sua eficiência. Às vezes o bo era protegido com tiras de ferro ou outro metal o que o tornava muito mais difícil de ser cortado.

Se não fosse pela ambição tenaz de um único homem, talvez o bastão curto tivesse permanecido como um fuzoku bugei, uma arma auxiliar do arsenal do guerreiro, nunca tendo o reconhecimento das outras armas de elaboração mais refinada.

O Shindo Muso-Ryu de Gonnosuke
Muso Gonnosuke Katsuyoshi nasceu no século 16 no Japão, numa época em que o Shogun Tokugawa Ieyasu estava empenhado em unificar toda a nação sob o seu domínio. Uma época em que os senhores feudais lutavam ferozmente entre si e as artes marciais passavam por uma transformação dramática que resultou num refinamento sem precedentes da técnica e dos métodos de treinamento. Vários ryu foram criados com a motivação de se aperfeiçoar os conceitos das escolas mais antigas e outros tiveram sua sistematização ampliada. Não é coincidência, considerando-se a violência da época e as oportunidades de luta, que a maioria dos mestres de artes marciais japoneses tenha vivido nesse período.

Katsuyoshi e Gonnosuke são nomes comumente usados por famílias samurai na época. Portanto, podemos supor que ele pertencia a um legado samurai. Além disso, consta em registros que Gonnosuke estudou no Katori Shinto-ryu e mais tarde no Kashima Shinto-ryu, se aprofundando no ensinamento de ambas as escolas. Não fosse ele de uma família tradicional, o ingresso em nenhuma desses ryu teria sido admitido.

Gonnosuke se interessou particularmente pelo bojutsu do Katori- e Kashima-ryu, se destacando nos ensinamentos de ambos os estilos. Ele viajou então para Edo (atualmente Tókio), onde adotou o costumeiro rito do musha shugyo. Trata-se da prática de visitar inúmeros dojo e mestres de diferentes escolas e solicitar instrução ou um desafio aberto. O Musha-shugyo podia ser perigoso, é claro. Mesmo os melhores artistas marciais tinham a sua cota de injurias. Mas, era uma excelente maneira de testar sua habilidade e de aprender o máximo possível sobre as estratégias dos outros estilos de arte marcial.

Gonnosuke deve ter sido extraordinariamente hábil com o bo, porque ele nunca foi derrotado em seus combates contra expoentes de outros ryu. Freqüentemente aproveitava a oportunidade para treinar em seus dojos, refinando a sua arte. Foi durante esse período de musha-shugyo que Gonnosuke se deparou com o espadachim Miyamoto Musashi.

Devem existir uma dúzia ou mais de relatos sobre as climáticas batalhas entre Musashi e Muso Gonnosuke, a maioria delas baseadas em pouco mais do que a fértil imaginação dos escritores de ficção. Além dos kodan (contos folclóricos), existem poucas informações sobre os duelos. Uma das fontes é o Niten-Ki, uma biografia sobre o Musashi que menciona o primeiro encontro deles. O Niten-Ki é uma coleção de contos sobre Musashi escrito por seus seguidores e conhecidos que só foram compilados em livro vários anos após a morte de Musashi. A sua descrição do conflito deve portanto ser encarada com ressalvas.

Segundo o Niten-Ki, o primeiro encontro entre Muso Gonnosuke e Musashi ocorreu quando Musashi encontrava-se perto de Kofu, nas vizinhanças de Edo. Musashi estava sentado num jardim trabalhando num arco que ele estava fazendo de amoreira. Sem nenhum aviso, Gonnosuke se aproximou e, dispensando qualquer introdução ou mesmo uma saudação, anunciou um desafio a Musashi e imediatamente lançou um ataque potencialmente fatal com o seu bo. Quase sem se levantar, Musashi evitou o ataque e contratacou, atingindo com maestria Gonnosuke com o pedaço de madeira que tinha em mãos. O livro registra esse incidente como tendo ocorrido depois das conhecidas batalhas de Musashi com a família Yoshioka e antes de ele se tornar um vassalo do clã dos Hosokawa, portanto, por volta de 1610. Musashi teria 20 e poucos anos, assim como Gonnosuke.

Essa derrota infame do jovem guerreiro Gonnosuke deve ter sido devastadora. Ele não estava ferido, a não ser em seu orgulho, mas a convicção em sua habilidade com o bo tinha certamente sido abalada. Decepcionado, ele retira-se para Kyushu, a ilha mais ao sul no arquipélago do Japão e que na época de Gonnosuke era uma fronteira selvagem e inóspita. Gonnosuke isola-se em Homan-Zan, uma montanha ao norte de Kyushu, cercada por florestas espessas, fontes de água quente e despenhadeiros profundos. Ele passa os dias em meditação e em práticas extenuantes com o bo, ao mesmo tempo em que realiza rituais religioso austeros. Passado um período dessa existência monástica, Gonnosuke teve um sonho.

Gonnosuke atribuiu ao seu sonho uma manifestação divina. Essas visões celestiais não eram inusitadas nas artes marciais do Japão antigo. Alguns ryu foram fundados, de acordo com seus pergaminhos e tradições orais, por mestres que tiveram uma revelação dos deuses quanto aos modos de combate. É um fenômeno tão antigo na história quanto um general Minamoto, Yoshitsune, que foi instruído na arte da guerra pelos tengu (espíritos alados das montanhas) que revelaram princípios de combate ao mestre da guerra quando ele era ainda uma criança. De modo geral, esse tipo de inspiração divina era anunciado quando o mestre afixava ao nome de seu recém nascido estilo os termos tenshin sho ou tenshin shoden. As palavras indicam que os fundamentos da arte resultam do tenshin, uma “presença divina”. O sonho de Gonnosuke foi preservado no detalhe, mas a sua revelação pode desapontar aqueles que esperam dele alguma iluminação. “Maruki o motte, suigetsu o shirei” (empunhe um bastão e assuma o controle dos elementos vitais). Essa foi a maneira como o próprio Gonnosuke o descreveu.

Embora abstrato, esse comando divino foi a inspiração que encorajou Gonnosuke a reavaliar a sua arma. Ele prontamente removeu vários centímetros de seu comprimento e passou a usa-lo de uma maneira totalmente inovadora. Esse evento marca o nascimento do Shindo Muso-ryu e também o começo do jo. Gonnosuke se referia a sua arte como Shindo Muso, ou o Divino Caminho do Pensamento Sonhado. Treinando sozinho, ele acumulou uma variedade de estratégias com o bastão mais curto que eram especificamente projetadas para anular o ponto forte das outras armas do bugeisha (principalmente a espada) e a explorar suas fraquezas.

Com esse conhecimento, Gonnosuke deixa seu retiro na montanha a procura do homem que o tinha derrotado tão facilmente. Ele não precisou procurar muito, pois Musashi estava também na ilha de Kyushu empregado a serviço do Lorde Hosokawa. Mais uma vez Gonnosuke desafiou Musashi e os dois se engajaram em uma luta furiosa. Não é possível saber exatamente com que técnica Gonnosuke derrotou Musashi, mas o fato é que Musashi foi totalmente e convincentemente derrotado, pela única vez em sua vida. O espadachim mais célebre e pitoresco do Japão foi superado pela arte do simples bastão. Se Gonnosuke fosse um homem de qualidade inferior, ele certamente teria alardeado a sua vitória e acumulado uma fortuna ensinando a sua arte. Mas, os anos de auto exílio tinham mudado a sua personalidade. Uma vez provada a eficácia de sua nova arte ele se retirou tranqüilamente, aceitando uma posição de professor de artes marciais no clan dos Kuroda em Kyushu. Para um numero seleto de alunos ele revelou a arte de seu jo, mas o estilo Shindo Muso permaneceu como um assunto de okuden (ensinamentos secretos).
Por muitos séculos, os segredos do jojutsu foram transmitidos cuidadosamente e sigilosamente. Ao longo do tempo, alguns bugeisha especialistas adicionaram suas próprias contribuições e ao estilo Shindo Muso de jo foi acrescentado métodos de esgrima do Shinto ryu, como também os dos ryu que lidavam com a foice e a corrente e com as técnicas de amarrar o oponente com um pequeno pedaço de corda (hojojutsu).

Outras Escolas
No entanto, a evolução subseqüente do jo não ocorreu somente pelos esforços do Shindo Muso-ryu. Os pesquisadores de artes marciais estimam que perto de 350 outros bugei-ryu clássicos adotaram posteriormente várias técnicas de jo em suas escolas. Os métodos do jojutsu clássico, compreendidos nos kata desses ryu são incrivelmente variados, lidando com todas as situações possíveis em que um praticante possa se encontrar. Como em todos os koryu tradicionais, a maiorias das técnicas de jo compreendem movimentos que tem o objetivo de neutralizar um ataque de um espadachim, sendo a katana a principal arma do artista marcial feudal. Mas nesses kata estão incluídos também uma variedade de técnicas voltadas para o uso em espaço confinado, ou contra inúmeros oponentes ou quando envergando uma armadura.

Uma vez provada por Gonnosuke a eficiência do bastão mais curto em combate, o seu método passou por inúmeras experimentações e alterações. Alguns bugeisha mostraram interesse especial em explorar as possibilidades desta arma despretensiosa. Inúmeras artes se desenvolveram a partir daí empregando o bastão de diferentes tamanhos. Daquelas que ainda sobreviveram em nosso século em uma forma reconhecível se destacam o han-bo e o tanjo. Os bastões, em ambos os casos, são mais curtos ainda do que o jo e podem ser usados para imobilizar a arma ou a articulação do oponente amarrando-o ou aplicando uma coleção de torções dolorosas e incapacitantes nas juntas. Assim como o jo mais comprido, eles também poderiam ser usados para bater ou estocar. Devido a sua praticidade eles passaram a ser adotados pela policia no Japão e usados, junto com o jo, em situações de turbulência onde o uso de armas de fogo não era recomendável. O meio seletivo de se transmitir a arte continuou porem até o início do século 20. Em 1907, sob a tutelagem de Hanjiro Shirata, o 24° seguidor do Shindo Muso-ryu, um bugeisha chamado Takaji Shimizu começou o seu treino em jojutsu. Em 1914 lhe foi concedido o menkyo (licença) completo para ensinar. Shimizu, que também era um especialista em várias outras artes clássicas de combate do Japão, pesquisou em detalhe as técnicas de jojutsu. Em 1927, a pedido da Agencia Nacional de Policia em Tóquio, ele e Ken’ichi Takayama, outro mestre do ryu, demonstraram o jojutsu como um possível auxílio para a ação policial. Shimizu foi indicado para instrutor da policia e uma unidade foi selecionada especialmente para aprender a arte. Essa sub especialidade do jo é chamada de keijojutsu – a arte do bastão policial.

Foi somente nos anos 50 que o jojutsu passou a ser ensinado ao publico em geral e, mesmo assim, as qualificações para ingressar no dojo eram severas e o número de estudantes limitado. No inicio dos anos 60, após muita consideração e estudo, Takaji Shimizu decidiu mudar o nome de sua arte de jojutsu para jodo. Essa modificação refletia as inúmeras alterações que Shimizu promoveu na arte. Ele eliminou do treino regular (mas não inteiramente do currículo) várias técnicas que podiam ser perigosas para praticantes menos hábeis. Ele instituiu o treinamento em movimentos básicos para refinar mais ainda o ensino e, o mais importante, ele direcionou a arte do jo como um Caminho, um budo, cujo objetivo não era um meio de combate mas uma disciplina através da qual se busca a auto perfeição.
Hoje em dia o jo é praticado em todo o mundo. É um nobre exemplo de como os valores do budo clássico podem beneficiar a sociedade moderna mantendo as forças e a profundidade de outros tempos.

26
mar
10

Kimono

Vestuário” em japonês fala-se ifuku. Cristiane A. Sato, colaboradora do site CULTURA JAPONESA, aborda neste artigo a história e a evolução do vestuário tradicional no Japão, e de como foi sempre fazendo parte da moda que o kimono não apenas tornou-se reflexo da cultura, como mantém-se vivo no cotidiano dos japoneses há mais de 2 mil anos.

Observação: neste artigo adotou-se a grafia Hepburn kimono, embora também seja considerada correta a grafia “quimono”, uma vez que expressão que já se encontra incorporada ao português e consta dos dicionários da língua portuguesa.

RESPOSTA A UMA PERGUNTA

Kimono em japonês significa literalmente “coisa de vestir”. Fora do Japão essa expressão designa genericamente uma variada gama de peças e que no conjunto formam um visual considerado típico ou tradicional japonês, mas também é sinônimo da peça principal. No Japão, a peça principal que nós chamamos de kimono é chamada de kosode.

O atual significado da palavra de kimono tem origem no século XVI, quando navegantes ocidentais – principalmente portugueses, espanhóis e holandeses – chegaram ao arquipélago. Nos primeiros contatos com os japoneses, sem conhecerem os idiomas de uns e de outros, os ocidentais perguntavam com mímicas e gestos qual era o nome das roupas de seda que viam os japoneses usarem, e os japoneses respondiam kimono. Era como alguém perguntando a um japonês: “Como se chama sua roupa?” E o japonês respondia: “Roupa”. Foi assim que a palavra kimono tornou-se designação moderna do vestuário tradicional japonês.

No Japão o vestuário divide-se em duas grandes categorias: wafuku (vestimenta japonesa ou de estilo japonês) e yofuku (vestimenta ocidental ou de estilo ocidental).

A história do vestuário japonês é em grande parte a história da evolução do kosode, e de como os japoneses adaptaram a seus gostos e necessidades estilos e a produção de tecidos vindos do exterior.

NA ANTIGÜIDADE

Não se sabe ao certo como eram as roupas usadas na Pré-história japonesa (Era Jomon – 10 mil a.C. a 300 a.C.), mas pesquisas arqueológicas indicam que provavelmente as pessoas usavam túnicas de pele ou de palha. Na Era Yayoi (300 a.C. a 300 d.C.) a sericultura e técnicas têxteis chegaram ao Japão através da China e da Coréia.

O Príncipe Shotoku e dois de seu filhos: penteados, túnicas e acessórios de forte inspiração chinesa na corte imperial japonesa.

Dos séculos IV a IX, a cultura e a corte imperial no Japão receberam forte influência da China. Influenciado pela recém-importada religião budista e pelo sistema de governo da corte Sui chinesa, o regente japonês Príncipe Shotoku (574-622) adotou regras de vestuário estilo chinês na corte japonesa. Posteriormente, com o advento do Código Taiho (701) e do Código Yoro (718, eficaz só a partir de 757), as roupas na corte mudaram seguindo o sistema usado na corte Tang chinesa, e foram divididas em roupas cerimoniais, roupas de corte, de roupas de trabalho. Foi nesse período que passou-se a usar no Japão os primeiros kimonos com a característica gola em “V”, ainda similares aos usados na China.

OPULÊNCIA TÊXTIL

Na Era Heian (794-1185) o contato oficial com a China foi suspenso pela corte imperial, e esse afastamento permitiu que formas de expressão cultural genuinamente japonesas florescessem nesse período. No vestuário isso se refletiu em um novo estilo, mais simples no corte, mas mais elaborado em camadas e sofisticação têxtil.

Os homens da aristocracia passaram a usar o sokutai, um conjunto formal composto por uma ampla saia-calça chamada oguchi, cuja aparência recheada e firme se deve a várias camadas de longos kimonos por baixo chamados ho, e uma enorme túnica bordada, de mangas longas e amplíssimas e uma cauda de cerca de 5 metros. Uma tabuleta de madeira chamada shaku e uma espada cerimonial longa, a tachi, eram complementos obrigatórios.

Os homens ainda deviam usar um penteado chamado kammuri – composto basicamente por um chapeuzinho sólido preto e uma ou mais fitas de seda engomadas na vertical, tudo preso ao cabelo. De acordo com variações (haviam 5 delas, referentes a quantidades de fita, se ela enrolada, se ela pendia do chapéu, etc), sabia-se o status ou grau de importância do indivíduo na corte. Uma versão simplificada do sokutai, o ikan, é usada atualmente pelos sacerdotes xintoístas.

As damas da corte usavam o igualmente amplo e impressionante karaginumo, mais conhecido pelo nome adotado após o século XVI jûni-hitoe, ou “as doze molduras da pessoa”. Trata-se de um conjunto de nada menos que doze kimonos da mais fina e luxuosa seda sobrepostos chamados de uchiki, cada um levemente mais curto que o anterior, de modo a deixar golas, mangas e barras aparecendo em discretas camadas, criando um efeito multicolorido de impacto.

O último uchiki, que serve de sobretudo, era bordado e era freqüentemente complementado por um cinto amarrado à frente em forma de laço no mesmo tecido, e uma cauda que podia ser em outra cor ou textura. Um enorme leque decorado com cordões de seda e um tipo de carteira de seda, encaixada na gola entre a 3ª e a 4ª camada, eram complementos obrigatórios. As mulheres não cortavam os cabelos: eram usados longuíssimos, lisos, soltos sobre as costas ou simplesmente amarrados um pouco abaixo da altura do pescoço, freqüentemente com as pontas arrastando no chão sobre a cauda do jûni-hitoe.

Reprodução moderna de um jûni-hitoe, usado na Era Heian (794-1185).

ESTILO SAMURAI

Na Era Kamakura (1185-1333), o advento do xogunato e o declínio do poder e do prestígio da corte imperial trouxe ao vestuário novos estilos adotados pela ascendente classe dos samurais. Na corte imperial e do xogum os grandes senhores e oficiais mais altos ainda usavam o formal sokutai, mas o kariginu, antes um traje de caça informal da aristocracia – um tipo de capa engomada com gola arredondada, longas e amplas mangas que podiam ser decoradas com cordões – foi amplamente adotado pelos senhores feudais e samurais.

As mulheres passaram a usar uma combinação de uchikis com um hakama, saia-calça ampla com placa de sustentação nas costas, usada também por homens. Com o tempo, uso do uchiki deu lugar ao kosode, que comparado ao uchiki é menos amplo, tem mangas mais curtas, e cuja forma aproxima-se mais dos kimonos modernos. A amarra para fechar o kosode era feito com faixas estreitas, na altura da cintura ou pouco abaixo da barriga.

Uchikake usado em peças Nô, confeccionado no século XVIII – National Museum, Tokyo

Na Era Muromachi (1333-1568) acrescentou-se o uchikake – também chamado de kaidori – um kimono com a mesma forma mas um pouco mais amplo que o kosode, que serve de sobretudo e que podia ou não ter barra almofadada. O kosode com uchikake era o traje formal feminino das altas classes. Hoje em dia o uchikake faz parte do traje de noiva tradicional.

Na Era Azuchi-Momoyama (1568-1600), período marcado por constantes guerras pelo poder entre os generais Hideyoshi Toyotomi e Nobunaga Oda, os samurais continuaram a usar coloridos e ricos conjuntos de peças superiores com calças, chamados de kamishimo – um kimono masculino com uma saia-calça ampla, longa e estruturada chamada nagabakama, tudo feito no mesmo tecido, às vezes complementado por uma jaqueta sem mangas, com ombros alargados e estruturados em tecido diferente. O kamishimo continuou sendo usado até a segunda metade do século XIX.

GOSTOS BURGUESES

Durante os 250 anos de paz interna do xogunato Tokugawa (1600-1868), os chõnin (burgueses, ricos comerciantes) deram apoio a novas formas de expressão artística e cultural que não mais derivavam da corte imperial ou da corte do xogum. O teatro kabuki e os “bairros do prazer” nas cidades de Edo (Tóquio), Osaka e Kyoto ditavam moda. O kosode, que se tornou o traje básico para homens e mulheres, passou a ser mais decorado, seja pelo desenvolvimento de técnicas de tingimento como yuzen e shibori, seja por outras técnicas artesanais de decoração têxtil com pintura, bordados e desenhos desenvolvidos no tear. Os obis femininos, faixas largas e compridas usadas para fechar os kosodes, feitos em brocado com fios de ouro e prata, ganharam ênfase na moda e viraram símbolos de riqueza.

A haori, uma jaqueta com mangas amplas e gola estreita feita de seda, na qual bordava-se ou imprimia-se símbolos que representavam a atividade profissional da pessoa ou a insíginia (kamon, ou escudo circular) do chefe da família, passou a ser amplamente usado. Uma versão popular, de mangas mais estreitas, feita em tecido mais simples e resistente, passou a ser usada por trabalhadores e funcionários de estabelecimentos comerciais. Chamada de happi, essa peça ainda é muito usada.

Algumas peças surgidas no início desse período refletem influência portuguesa. A kappa (capa longa de corte circular, com ou sem gola, sem mangas, usada como sobretudo) deriva das capas usadas pelos navegantes portugueses, assim como a jûban (camisa com forma de kimono curta usada como roupa de baixo) deriva do “gibão” português.

Seibunkasha

No século XIX, o xogunato refez as normas de vestuário militar, e tornou o kosode, o hakama com barra na altura do tornozelo e o haori o uniforme-padrão dos samurais.

O daisho (conjunto de duas katanás – espadas curvas – uma longa e outra curta) e o penteado chonmage – a parte acima da testa é raspada, com os cabelos, compridos na altura dos ombros, presos em forma de um coque na parte superior atrás da cabeça – eram de uso obrigatório.O conjunto kosode, hakama e haori é hoje o traje do noivo em casamentos tradicionais.

TEMPOS MODERNOS

A partir da Restauração Meiji (1868), os japoneses lentamente adotaram o vestuário ocidental. O processo começou por decreto: o governo determinou que todos os funcionários públicos, militares e civis, passassem a usar roupas ou uniformes à ocidental. Ao final da 1ª Guerra Mundial (1918), quase todos os homens já usavam ternos, camisas, calças e sapatos de couro.

As mulheres adotaram mais lentamente os estilos ocidentais. No início apenas a aristocracia usava vestidos de gala, importados da Europa, usados em algumas ocasiões formais na corte Meiji e em bailes do suntuoso salão Rokumeikan (de 1883 a 1889) em Tóquio. A partir da 1ª Guerra Mundial, mulheres instruídas e com profissões urbanas passaram a usar diariamente roupas ocidentais, mas só após a 2ª Guerra Mundial (1945) foi que o vestuário ocidental passou a ser a regra em todas as classes sociais, homens mulheres e crianças.

Fashion kimono: temas abstratos, geométricos e estamparia moderna e o insubstituível toque da seda fizeram as japonesas voltarem a usar kimonos no século XXI – Saita Mook, Shiba Park-sha

Atualmente a maioria das mulheres usam kimonos apenas em ocasiões especiais, como casamentos e matsuris (festivais populares ou tradicionais). Homens usam kimonos ainda mais raramente. O yukata, kimono leve de algodão estampado, típico de verão, ainda é bastante usado por homens e mulheres nos festivais de verão e em resorts, à ocidental ou estilo japonês. Desde a virada do milênio, entretanto, mais pessoas têm resgatado o uso do kimono no cotidiano, gerando um movimento informalmente apelidado de fashion kimono – kimonos de forma tradicional mas com estampas modernas, obis (faixas de amarrar na cintura) que não amarrotam ou com nós prontos, que agradam a um público mais jovem.

TIPOS DE KIMONOS

Kurotomesode
Sekaibunkasha

Parece simples, mas não é. Dependendo de estampas e cores, os kimonos seguem uma etiqueta, uma hierarquia cujo uso depende da ocasião, da estação do ano, do sexo, do grau de parentesco ou do estado civil da pessoa que o usa. Veja a seguir os principais tipos de kimono:

Kurotomesode

“mangas curtas preto”, kimono preto com profusa decoração das coxas para baixo e com 5 kamons (escudos de família) impressos ou bordados em branco nas mangas, peito e costas. Usado com um obi de brocado dourado, é o kimono mais formal das mulheres casadas, geralmente usado pelas mães do noivo e da noiva num casamento.

Irotomesode

“mangas curtas colorido”, kimono liso de uma só cor, geralmente em tons pastéis, com profusa decoração das coxas para baixo e com 5 kamons (escudos de família) impressos ou bordados em branco nas mangas, peito e costas. Usado com um obi de brocado dourado, é um kimono menos formal que o kurotomesode, e é usado por mulheres casadas que são parentes próximas dos noivo e da noiva num casamento.

Furisode

“mangas que balançam”, kosode feminino cujas mangas possuem 70 cm a 90 cm de comprimento. É o kimono formal das moças solteiras, ricamente estampado, fechado com obi em brocado multicolorido e brilhante amarrado em grandes laços nas costas.

É geralmente usado no Seijin Shiki (Cerimônia da Maturidade, no mês de janeiro no ano em que a moça completa 20 anos) e pelas moças solteiras aparentadas da noiva nas cerimônias e recepções de casamento.

Jovem em furisode.

Acima, detalhe do laço do obi nas costas.
Akemi Moriguchi, arquivo pessoal.

Houmongi

“traje de visita”, kimono liso de uma só cor, geralmente em tons pastéis, com profusa decoração em um dos ombros e uma das mangas, e das coxas para baixo, sem kamons (escudos de família). Considerado um pouco menos formal que o irotomesode, em cerimônias de casamento é usado por mulheres casadas ou solteiras, que geralmente são amigas da noiva. O houmongi também pode ser usado em festas formais ou recepções.

Tsukesage

Comparado ao houmongi, o tsukesage tem uma decoração um pouco mais discreta e é considerado menos formal que o houmongi. Dos kimonos que podem ser usados diariamente por casadas e solteiras, é o mais requintado.

Iromuji

kimono de uma só cor, que pode ter textura mas sem decoração em outra cor, usado principalmente em Cerimônias do Chá. Pode ter um pequeno bordado decorativo ou um kamon (escudo de família) nas costas. É um kosode semi-formal, considerado elegante para uso diário.

Komon

“estampa pequena”, kimono feito com seda estampada com desenhos pequenos repetidos por toda a peça. Considerado casual, pode ser usado para sair pela cidade ou para jantar em um restaurante. Pode ser usado por casadas e solteiras.

Tomesode

“mangas encurtadas”, kosode feminino de seda, forrado em seda de cor diferente, cujas mangas possuem 50 cm a 70 cm de comprimento. A expressão deriva do costume de que quando as mulheres se casavam elas passavam a usar kimonos com as mangas curtas – ou cortavam as mangas dos kimonos – como símbolo de fidelidade ao marido. A maior parte dos kosode usados por mulheres são desse tipo.

Homem em Yukata.
Sekaibunkasha

Yukata – kimono informal de algodão estampado, sem forro. Mulheres usam os de grandes estampas, geralmente de flores, com obi largo, e os homens usam os de pequenas estampas, com obi estreito.

O yukata é mais usado em matsuris (festivais), mas também pode ser usado diariamente em casa.

Ryokans (hotéis ou pousadas tradicionais) e onsens (resorts com termas) costumam disponibilizar yukatas para todos os hóspedes.

KIMONOS CERIMONIAIS INFANTIS

Shichi-go-san (7-5-3) é o nome de uma cerimônia xintoísta na qual as meninas e 7 e 3 anos, e os meninos de 5 anos de idade, vestem kimonos especiais e visitam o templo para pedir saúde e boa sorte em seu crescimento.

As meninas são vestidas como mini-gueixas, destacando-se a cor vermelha, e os meninos usam uma versão miniatura de um traje formal completo de samurai. A haori dos meninos são estampadas com imagens de samurais famosos (normalmente a figura de Minamoto no Yoshitsune, também chamado de Ushiwakamaru, herói do Heike Monogatari – O Conto de Heike).

Menina com o kimono comemorativo de 3 anos – Sekaibunkasha.

Menino com o kimono comemorativo de 5 anos – Seikaibunkasha

Menina com o kimono comemorativo de 7 anos – Sekai- bunkasha

DETALHES

Eis a seguir um vocabulário sobre aspectos e acessórios de kimonos:

Geta

Sandália de madeira, geralmente usada por homens e mulheres com yukata.

Kanzashi

Nome que designa uma série de ornamentos para o cabelo usados com kimono. Podem ter a forma de espetos com terminais esféricos ou diversos formatos decorativos, flores ou de pentes. São feitos em madeira laqueada, tecido, jade, casco de tartaruga, prata, etc.

Obi

Faixa usada amarrada à cintura para manter o kimono fechado. Varia em largura e comprimento. Homens em geral usam obis de trama larga e firme, em cores discretas, estreitos, amarrando com um nó às costas circundando a linha abaixo da barriga. Mulheres em geral usam obis em brocado largos, com desenhos feitos no tear, ao redor do tronco e amarrados às costas. Cores e desenhos variam: os mais brilhantes e intrincados são usados em ocasiões formais.

Obijime

Cordão decorativo em fio de seda usado para dar acabamento e firmeza à amarra do obi. Usado por mulheres.

Tabi

Meia de algodão na altura dos tornozelos ou metade das canelas, com divisão para o dedão do pé, com abertura voltada para o lado entre as pernas.

Waraji

Sandálias de palha trançada. Bastante comum décadas atrás, atualmente são mais usadas por monges.

Zõri

Sandália com acabamento em tecido, couro ou plástico. Os femininos são estreitos e possuem a ponta mais ovalada, e os masculinos são mais largos, retangulares, com as extremidades arredondadas.

Fonte: http://www.culturajaponesa.com.br

16
fev
10

No fio da espada

Um estrito código de honra, disciplina ferrenha, serenidade diante da morte. Com você, os samurais e a sua fascinante história.

kobayashi heihachiro

por Karen Gimenez ( artigo revista superinteressante – Jan 2002)

Domingo, 6h30. Enquanto as crianças da idade dele ainda estão sob as cobertas sonhando com as Meninas Superpoderosas, o pequeno Daniel Yamamoto, de 7 anos, já está pronto para enfrentar duas horas de muita disciplina, manuseando seu shinai, uma espada de madeira, com a cabeça escondida sob o men, um elmo feito de resina e metal, e com o corpo envolvido pelo do, uma couraça de bambu. Daniel maneja seu shinai em meio a um grupo de pessoas pelo menos 15 anos mais velhas que ele, em São Paulo. Ele é o mais jovem praticante brasileiro do kendô, arte marcial cuja origem remonta aos duelos medievais japoneses. As razões da sua disciplina extrapolam o gosto que ele possa ter pela prática. Daniel é descendente direto da linhagem Yamamoto, samurais que fizeram história na cidade de Akita, situada no norte do Japão.

Esta ilustração acima de yoshitoshi tsukioka, de 1889, representa o samurai kobayashi heihachiro defendendo seu mestre de 47 ronins, em luta que teria acontecido em 1703.

Para entender como o sangue de samurai pode ainda pulsar nas veias de um garoto brasileiro rodeado de videogames e das facilidades do mundo moderno é preciso voltar pelo menos 1 000 anos e mergulhar na Idade Média japonesa. O termo samurai, que significa “aquele que serve”, começou a ganhar importância no Japão por volta do ano 1 100. O Japão medieval, um país agrícola e isolado do resto do mundo, estava dividido em propriedades rurais. As disputas envolvendo a demarcação das terras e as brigas pelo poder aconteciam no dia-a-dia. O governo central era distante e a figura do imperador, mais divina que política. Como resultado, os donos de terra – os daimyô – acabaram criando exércitos particulares para defender seus domínios ou para empreender ataques às terras alheias. Esses pequenos exércitos particulares eram formados por samurais, guerreiros forjados na arte da luta de espadas.

Além de proteger os feudos – chamados de han –, eles garantiam a ordem interna e deliberavam sobre algumas questões administrativas.

Nessa mesma época, no início do século XII, duas novas religiões – o zen budismo e o confucionismo – chegaram ao Japão e se misturaram ao xintoísmo, o credo original japonês. Os princípios do budismo e a filosofia de Confúcio começaram a influenciar o modo de vida japonês. Essa fusão de doutrinas foi fundamental na formação filosófica e espiritual dos samurais. “O xintoísmo pregava o amor à pátria e à família, o budismo propunha a auto-análise e a busca do caminho do meio e o confucionismo estabelecia os padrões de vida em sociedade”, diz Tadashi Tamaki, presidente da Confederação Brasileira de Kendô. O Bushidô, código de ética seguido pelos samurais. bebe nessa tríade filosófica. “O xintoísmo e o budismo se fundiram de tal forma que dividiam espaço no mesmo templo.

Até hoje é possível encontrar, no Japão, alguns templos com imagens e símbolos das duas crenças”, diz Leiko Gotoda, tradutora para o português de Musashi, romance sobre a vida do samurai homônimo , o mais famoso do Japão, lançado em 1999 no Brasil.

Apesar de seguirem as mesmas regras básicas, havia diferenças no estilo de luta entre os samurais de um feudo e outro – e até mesmo entre grupos dentro do mesmo feudo. Essas dessemelhanças acabaram gerando diferentes clãs de samurais. Se algum guerreiro de destaque desenvolvesse particularidades no seu estilo, ele fundava uma casa de samurais com o nome da sua família. Filho de samurai tinha que ser samurai – a sociedade japonesa era dividida em castas. Quem não nascia samurai podia tentar se tornar um, trabalhando como ordenança para os clãs em troca de um longo e árduo aprendizado.

Ao longo dos anos, os samurais foram ganhando espaço e importância e começaram a se aproximar da corte imperial. Até que, em 1192, o samurai Yoritomo Minamoto tornou-se o primeiro xogun – que significa “general” –, um militar escolhido para cuidar da administração e da segurança do país. Inicia-se aí o período dos Xogunatos, que manteria o Japão por mais de 700 anos sob o comando de três clãs. O cargo de xogun era vitalício e hereditário e podia ser conquistado pela força, desde que o imperador aprovasse a família vencedora.

Nesse período, a casta dos samurais passou a ocupar o topo da hierarquia social no país, embora não fosse a mais rica. Havia poucos samurais abastados. Eles eram reconhecidos na rua por portarem duas espadas presas ao obi, a faixa que segurava o kimono. A mais longa, katana, tinha uma lâmina com 80 centímetros de comprimento e era usada para lutas em locais amplos. A menor, vakisashi, media entre 50 e 60 centímetros, conforme a estatura do samurai, e servia para lutas em espaços fechados. Mas a regra nem sempre se cumpria.

O período dos Xogunatos foi marcado por conflitos sangrentos. O objetivo do governo central, representado pelo xogun, era unificar o país. O dos daimyô era defender a sua independência em relação ao xogun. A maior batalha foi, provavelmente, a de Sekigahara, em 1600. Em seis horas de confronto, morreram 35 000 homens só do lado derrotado. Pode não parecer um grande número para quem vive em uma era como a nossa, em que o assassinato em massa é um recurso cada vez mais acessível a qualquer imbecil. Mas é uma formidável carnificina para um tempo em que as lutas aconteciam homem a homem, olho no olho, lâmina contra lâmina.

Esta ilustração de taiso yoshitoshi, de 1885, representa o samurai soga goro cavalgando em busca do irmão , que ele pressentira estar em perigo.

A relação dos samurais com a morte merece uma análise à parte. Para eles, matar e morrer era tão corriqueiro quanto comer uma tigela de arroz. Eles estavam preparados para batalhas e duelos 24 horas por dia. O jornalista José Yamashiro afirma, em seu livro A História dos Samurais, que, na hora de lutar para defender o seu daimyô, “a vida do samurai era menos valiosa que a pena de uma ave”. Segundo o sociólogo Benedicto Ferri, autor de Japão, a Harmonia dos Contrários, um estudo sobre o modo de vida e o pensamento japoneses, “essa tranqüilidade diante do fim da vida, um momento tão temido pelos ocidentais, vem do Bushidô”.

Desde que tinham a idade do pequeno Daniel, os samurais absorviam os conceitos budistas da impermanência e da reencarnação. Acreditando desde cedo que a morte não é o fim, mas apenas uma porta de passagem para uma nova fase da existência – que poderia ser atravessada a qualquer momento –, ficava mais simples encarar com galhardia o próprio fim.

Os padrões de conduta expressos no Bushidô também contribuíam para essa visão da morte como um evento natural. O código de honra dos samurais pedia motivos justos para que a morte acontecesse. Exigia que o momento derradeiro fosse vivido com honradez. E assegurava que não havia honra maior para um samurai que morrer defendendo o seu senhor ou a sua própria reputação. A familiaridade com a morte e a sua aceitação eram tão grandes que um samurai preferia se matar a ser preso pelo inimigo. O ritual do seppuku – também conhecido como harakiri –, tornava-se mandatório quando o samurai cometia uma falha que manchasse o seu caráter. O Bushidô ensinava que a desonra é um mal que nunca cicatriza. O ritual era levado a cabo tanto para expiar um ato pessoal ou familiar vergonhoso quanto para que o samurai não servisse a mais ninguém quando o seu senhor morresse – a lealdade era um conceito caro aos guerreiros. O suicídio era tão litúrgico quanto a conduta em vida.

Realizava-se o seppuku com uma adaga. Ajoelhado, o samurai perfurava o próprio ventre e dilacerava-o em forma de L ou de cruz até as vísceras ficarem expostas. A exposição das vísceras simbolizava que ele estava mostrando a sua verdade, oferecendo o seu interior para ser purificado. Era uma morte extremamente dolorosa. Por isso, assim que as vísceras saíam do abdôme, outro samurai, escolhido pelo suicida, decepava-lhe a cabeça, como um golpe de misericórdia.

A retidão e a preocupação em unificar a formação espiritual e a habilidade com a espada dos samurais acontecia de forma distinta entre os guerreiros ninja . De toda forma, o padrão de conduta dos samurais foi reforçado no terceiro Xogunato, conhecido como Era Tokugawa, quando o Japão foi finalmente unificado. Ali os samurais viveram o seu auge e também a sua derrocada. Valorizados pelo desempenho nas batalhas de unificação, eles consolidaram a imagem de heróis valorosos e destemidos. Ao mesmo tempo, com as reformas administrativas e o início da pacificação no país, a maioria deles perdeu o emprego. O que se viu foi uma grande quantidade de samurais peregrinando pelo país, à procura de um novo senhor ou então trabalhando temporariamente para diferentes senhores. Eram os chamados ronins. Sem recursos financeiros, vários clãs se desfizeram. Alguns guerreiros foram fazer outra coisa: trabalharam na reforma dos castelos, viraram calígrafos, escultores, mestres da cerimônia do chá.

Outros continuaram investindo na arte de guerra. Houve um crescimento dos duelos e, com a ausência de guerras, eles se acentuaram. Isso porque uma das formas de aperfeiçoar a própria arte, era desafiando componentes de outro clã. Funcionava assim: o samurai queria chamar a atenção de algum senhor. Então, chegava em um local onde havia uma casa famosa de artes marciais e desafiava seu líder para um duelo quase sempre mortal. Quem decidia se o perdedor ia morrer ou não era o vencedor. Ao vencer, o samurai começava a ganhar fama pelo país. Mas isso implicava em outro problema. O descendente direto da casa desafiada sentia a honra da sua família ofendida com o duelo perdido e desafiava o vencedor, criando assim uma seqüência praticamente interminável de duelos entre famílias e linhagens. Em não muito tempo, os duelos foram severamente reprimidos pelo governo central. Sem guerras e sem poder duelar, os samurais começaram a escassear.

A Era Tokugawa e o Xogunato acabaram em 1868, com a concentração do poder na família imperial e a abertura do Japão para o resto do mundo. Enquanto o país se modernizava rapidamente, alguns hábitos se pulverizavam. Tanto que o poderoso xogun Tokugawa, ao ser derrotado, não praticou o seppuku para defender a própria honra. Pediu clemência e ganhou asilo em uma pequena província onde se dedicou ao artesanato e à produção de bicicletas.

Com a abertura dos portos, começou a entrar no Japão uma grande quantidade de armas de fogo. O governo, já instalado em Tóquio, organizou um exército nacional institucionalizado. A espada já não tinha mais utilidade como arma de guerra. Nem os samurais tinham mais espaço como guerreiros. No início do século XX, eclodiram revoltas regionais de samurais, que viam sua classe ameaçada. Até que o governo declarou o fim da casta e proibiu que as pessoas andassem com espadas na rua.

Várias dessas espadas foram destruídas e outras, guardadas como objetos de adoração. Pouco mais de meio século depois, a tradição dos samurais sofreu novo e duro golpe. Com a derrota do Japão na Segunda Guerra e a dominação americana, todas as armas do país foram confiscadas, inclusive as espadas de samurais que vinham sendo passadas de geração em geração durante séculos. Na década de 60, parte dessas espadas foram devolvidas às famílias. A maioria, no entanto, acabou sendo destruída.

A espada de Daniel, o jovem descendente de samurais, está guardada em Akita, sob os cuidados do avô. “Não havia motivo para trazê-la ao Brasil pois, antes do nascimento de Daniel, éramos quatro mulheres da família morando no país”, diz Yoshiko Yamamoto, tia do garoto. (E mulheres, seguindo um tipo de discriminação comum na cultura japonesa, não podem ser samurais.) Daniel garante que, quando crescer, vai ao Japão buscar a relíquia que lhe pertence. Palavra de samurai.

Musashi, o maior de todos

Miyamoto Musashi (1584-1645) é o mais famoso samurai da história. Morreu há mais de três séculos e sua trajetória ainda é motivo de debates entre historiadores japoneses. Alguns o consideram um grande herói. Outros, um dos homens mais covardes que já nasceram no Japão. Sua história originou mais de uma dúzia de filmes e sua biografia romanceada foi lançada nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, os dois volumes da obra, totalizando 1 800 páginas, já venderam 72 000 exemplares. “Musashi, durante a maior parte da sua vida, buscou a integração perfeita entre a arte da luta e o engrandecimento espiritual”, diz Leiko Gotoda, que trabalhou dez anos, por iniciativa própria, na tradução para o português da história do samurai. A saga mostra um exímio espadachim que aprendeu a arte da luta com sabres praticamente por conta própria. E que criou o estilo de lutar com duas espadas ao mesmo tempo.

Musashi participou da histórica batalha de Sekigahara e peregrinou mais de 30 anos pelo Japão vencendo duelos em busca da perfeita harmonia entre sua alma e sua espada. Musashi gera polêmica entre os japoneses por dois motivos. Um deles, a “sua falta de asseio”, diz Leiko. “Como ele nunca largava as espadas dizem que dificilmente trocava de roupa ou tomava banho.” E a higiene fazia parte da ética do samurai. Outro fato que condenaria Musashi é o famoso duelo do Pinheiro Solitário, quando ele matou o garoto Genjiro. Musashi havia desafiado Seijuro, o primogênito da casa Yoshioka, um famoso clã de samurais, que matara seu pai. Venceu o primeiro duelo, decepando o braço do desafiado. Com a honra da casa ofendida, um irmão de Seijuro desafiou Musashi. Perdeu o duelo e a vida. Ainda mais desonrada, a família Yoshioka desafiou Musashi para mais um duelo com o último herdeiro do clã, Genjiro, que era apenas um aprendiz de 13 anos. Alguns estudiosos japoneses acreditam que Musashi não agiu de acordo com o Bushidô.

Afirmam que ele deveria ter poupado a vida do garoto. Ou então, lutado, vencido e realizado o seppuku – suicídio com a própria lâmina – por tirar a vida de uma criança. Outros acham apenas que Musashi seguiu a tradição dos samurais ao aceitar o terceiro desafio contra o clã dos Yoshioka. Alguns métodos de Musashi, contestados na época, hoje são considerados sofisticadas estratégias de luta, como se atrasar para os duelos deixando o inimigo irritado e usar elementos da natureza a seu favor, cegando o oponente durante a luta ao colocá-lo de frente para o sol, por exemplo. Recolhido a uma caverna para meditação, já perto do fim da vida, Musashi escreveu o Livro dos Cinco Anéis, com estratégias sobre como enfrentar o inimigo. Esse livro é usado atualmente em escolas de Administração no mundo todo para ensinar táticas de competição empresarial.

A obra dá conselhos sobre como controlar o tempo que vai durar a batalha, ver o que ninguém consegue enxergar, não tomar atitudes inúteis ao objetivo, estudar todos os caminhos possíveis e apurar a intuição.

O caminho da espada

No Japão feudal, a espada era cultuada como uma divindade. Sua forja levava meses e cumpria um minucioso ritual. Cada artesão responsável pela fabricação das lâminas assinava seu nome no cabo da espada. Eram trabalhos tão personalizados que reconhecia-se um sabre pelo estilo do forjador, como se reconhece um quadro ou uma escultura. Ao iniciar a confecção de uma espada, o artesão fechava o ateliê com uma corda de palha de arroz para afugentar os maus espíritos. Durante a forja, ele se abstinha de álcool e do contato com as mulheres.

Utilizava-se o minério de ferro, recolhido nas margens dos rios, como matéria-prima. Num primeiro momento, ele era misturado a folhas de pinheiro e fundido em placas, em fornos artesanais. Na verdade, obedecia-se a uma seqüência de processos de fundição que podiam durar semanas e que eram levados a cabo até o metal chegar ao ponto ideal para o início da confecção da lâmina. Considerava-se todo o processo como algo místico. A lâmina, um sanduíche de cinco camadas de metal, tinha a parte interna mais flexível, para facilitar o movimento,e o gume mais rígido, para apurar o corte. Prontas as lâminas, a espada ganhava um cabo de madeira nobre e muito leve, revestido com couro de arraia ou tubarão, cravejado de pedras preciosas e com desenhos feitos em ouro e prata. Cada espada tinha uma forma única e, apesar de todo o material empregado, era leve: pesava entre 1 e 2 quilos.

A busca de uma morte honrosa

O Bushidô, o código de ética dos samurais, tinha, para os guerreiros, mais força que as leis do Japão. Não é possível determinar o ponto exato no espaço e no tempo em que ele surgiu. O fato é que o Bushidô se espalhou por todo o país. Transmitido oralmente, todos os clãs de samurais o seguiam à risca. Para o Bushidô, o objetivo da vida de um samurai era uma morte honrosa. O espírito de um guerreiro valoroso tinha de estar constantemente preparado para morrer. Por isso, era preciso viver cada momento como se fosse o último. Tudo tinha de ser feito com o máximo empenho. E a morte deveria ter um significado, não podia ser inútil. O resultado é que os samurais ficaram conhecidos por jamais vacilarem diante do fim, nem mesmo nos momentos de maior perigo nos campos de batalha. Um samurai, rezava o Bushidô, devia estar preparado para vencer o inimigo sozinho, mesmo que esse fosse numeroso e as chances de vencê-lo fossem mínimas.

seppuku

Ao receber um golpe mortal, dizia o Bushidô, o samurai não podia cair de bruços, em posição desonrosa, dando as costas para o inimigo. A posição do cadáver era uma questão de honra para o samurai. Ele deveria encarar o inimigo de frente, mesmo morto. O samurai, segundo o Bushidô, deveria basear sua vida ainda pelos seguintes preceitos: justiça, gratidão, coragem, compaixão, cortesia, sinceridade, honra e lealdade.

Esta ilustração ao lado de taiso yoshitoshi, de 1868, representa o samurai reisei takatoyo realizando o seppuku – suicídio com a própria espada.

A arte da camuflagem

Os ninjas representam uma parte importante da história do Japão, apesar de a semente da sua arte estar na Índia. Enquanto o samurai fazia parte de um exército, o ninja operava como um espião.

Era o anti-herói, aquele que aceitava o trabalho sujo por ser perito na arte da camuflagem e por resistir às condições mais adversas. A palavra ninja significa “pessoa resistente”. O período áureo dos ninjas foi a época de disputas acirradas entre os senhores feudais, antes da unificação do país – quando eles passaram a ser utilizados para espionar os estrangeiros que chegavam ao Japão. O domínio que os ninjas tinham sobre seu corpo e sua mente era tido como sobre-humano. Treinados desde criança, diz-se que conseguiam até controlar os batimentos cardíacos.

O lema dos ninjas era “jamais subestimar o inimigo, nunca vacilar em batalha nem temer o oponente”. Seu método era tornar-se invisíveis. Um bom ninja se infiltrava em território inimigo, descobria informações secretas, matava o rival e ainda semeava a discórdia. Diferentemente dos samurais, havia mulheres entre os ninjas. Além do manejo das armas, elas dominavam os segredos da sedução e realizavam seus intentos durante encontros amorosos. No cinema, a marca registrada do ninja é o traje negro. Esse era apenas um de seus disfarces. Mas os ninjas também se escondiam em árvores, subiam em paredes com extraordinária facilidade e ficavam horas imersos na água, graças a uma técnica que inventaram: a da respiração utilizando um pedaço de bambu.

02
fev
10

O surgimento dos samurais

Confrontos e revoltas históricas marcaram o surgimento de uma nova classe social: a dos samurais

A Era Heian marcou o surgimento e a ascensão dos samurais e de seus principais clãs, que entraram para a história do arquipélago com suas lutas e revoltas, episódios nos quais eles mediram forças na luta pelo poder. Essa nova classe passou a integrar a estrutura social da época ao lado da nobreza tradicional.

Surgimento da classe dos bushi (samurai)

Enquanto a nobreza, liderada pela família Fujiwara, levava uma vida de muito luxo e requinte, os senhores rurais, donos de shôen, foram aumentando o seu poder de combate treinando guerreiros primeiro para proteger suas terras da invasão alheia, depois para conquistar novas terras. Esses senhores rurais se tornaram funcionários de kokushi (espécie de governador), administradores rurais ou guardiães das terras, recebendo títulos de nobreza ínfima. Eles passaram a liderar grupos de guerreiros, ou seja, de bushi, que nutriam grande admiração pela vida luxuosa da capital. Assim, os nobres enviados ao interior como kokushi pela corte Yamato recebiam tratamento especial, extremamente respeitoso.

Dessa forma, entre os nobres mandados para o interior como kokushi, surgiram aqueles que preferiram permanecer no campo, mesmo após o término do seu mandato, já que não havia perspectiva de uma vida melhor na capital. Alguns nobres que optaram pela vida rural formavam seus grupos de bushi (samurai), formando tropas de combate e tornando-se seus líderes, iniciando, dessa forma, a criação dos clãs.

A Revolta de Masakado

Em 939, Taira-no-Masakado reuniu os bushi insatisfeitos com os enviados da corte que governavam as suas regiões e voltou-se contra o poder da capital. Declarou-se imperador e iniciou a revolta contra os nobres da capital, atribuindo poderes aos bushi, seus seguidores.

A revolta de Masakado foi contida por Fujiwara-no-Hidesato, outro nobre que tinha se instalando no interior (atual província de Tochigi) e por seu primo, Taira-no-Sadamori. Masakado morreu durante a batalha.

Famílias Minamoto e Taira

Com o objetivo de reconquistar o controle do país e refrear o poder da família Fujiwara, o imperador Gosanjô (1034~1073) criou o sistema de insei, pelo qual foi introduzido o cargo supremo de jôkô, que conferia ao imperador que abdicou o poder de governar em nome do novo imperador. Assim, Gosanjô abdicou do trono em favor de Shirakawa (1053~1129) e tornou-se jôkô, governando o país pelo sistema diárquico. Por não ter nenhum parentesco com a família Fujiwara, Gosanjô conseguiu governar o país livremente ao longo de 43 anos como jôkô de três imperadores, contando com a proteção de Minamoto-no-Yoshiie. Enviada para combater os povos de Ezo, a família Minamoto pediu auxílio aos guerreiros da região leste da ilha principal do Japão, com os quais conseguiu vencer a batalha e criou fortes laços. Para conter o crescente poder dos Minamoto, Gosanjô encarregou também a família Taira do serviço de proteção.

Uma guerra entre as famílias destacou-as no panorama político pela primeira vez na história do Japão, em 1156, com a Revolta de Hôgen. Em 1159, a Revolta de Heiji colocou frente a frente os Minamoto e os Taira na luta pelo poder. A batalha foi vencida pela família Taira, que passou a controlar politicamente o Japão. Em 1168, Taira-no-Kiyomori (1118~1181), chefe da família Taira, ocupou o cargo de ministro, dajô-daijin, tornando-se o primeiro samurai a ocupar tal posição. A família Genji ficou, então, à espera da revanche.

Minamoto-no-Yoritomo da família Genji, que havia sido exilado em Izu-no-Kuni (província de Shizuoka), junto com seu sogro, Hôjô Tokimasa, atacou a família Taira em Izu-no-Kuni, mas foi derrotado. Porém os comandantes de guerreiros da região de Kantô juntaram-se a Minamoto-no-Yoritomo. Seu irmão, Yoshitsune, conhecido por sua bravura, também saiu de Ôshu-Hiraizumi (província de Iwate) e passou a lutar ao lado de Yoritomo, que conseguiu, lentamente, instalar-se em Kamakura.

Acometido por uma febre alta, Kiyomori faleceu pedindo, em seu leito de morte, a cabeça de Yoritomo, em 1181.

O último confronto entre os sobreviventes da família Taira e as tropas de Genji aconteceu na Baía de Dan-no-Ura (província de Yamaguchi). A batalha foi vencida pelas tropas de Genji, em 1185. O pequeno imperador Antoku, neto de Taira-no-Kiyomori, morreu junto com sua mãe, filha de Kiyomori, nessa batalha, encerrando, assim, a Era Heian. Em 1192, Minamoto-no-Yoritomo instalou-se em Kamakura, dando início ao shogunato Kamakura. Esse foi o começo da era dos samurais no Japão.

A ascensão e a queda da família Taira, ou seja, Heike, pois a leitura chinesa do ideograma da família Taira é = Heike, foi narrado pelos biwa-hôshi, uma espécie de menestrel. Sua narrativa é conhecida como Heike-Monogatari (contos da família Heike), cujo tema central é a efemeridade da vida.

A vida na corte

Enquanto os bushi levavam uma vida austera, dedicando-se ao treinamento de artes marciais, os nobres se esmeravam em luxo e requinte. Eles vestiam várias camadas de roupas e valorizavam as combinações das cores que se entreviam em golas, mangas e barras, no caso das mulheres. Assim, além da qualidade do tecido, os nobres preocupavam-se também com as cores e seus efeitos. Existiam algumas cores usadas conforme a classe social do indivíduo.

Os nobres dessa época carregavam na maquiagem. Depilavam as sobrancelhas e desenhavam-nas com tinta de carvão. As mulheres adultas tingiam os dentes de preto.

O perfume de incenso, que foi introduzido no Japão junto com o budismo, era usado no dia-a-dia pelos nobres. Cada um criava seu próprio perfume misturando no mínimo dois tipos de incensos. Os nobres perfumavam os seus trajes queimando os incensos para que suas roupas ficassem impregnadas com o perfume criado.

A beleza feminina era medida pelo comprimento dos cabelos, que deviam ser longos, negros e sedosos. O máximo de beleza era ter cabelos mais longos que a própria altura, não ser muito magra e ter a pele bem branca.

Hábitos alimentares dos nobres

A alimentação da nobreza era modesta. O prato principal era o arroz, cozido com a água ou no vapor, acompanhado de peixes, carne de aves, verduras, algas e frutas. Os peixes eram, em sua maioria, secos ou conservados na salmoura. Por influência do budismo, muitos não consumiam peixes ou carnes, ficando desnutridos e doentes. A refeição era feita duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde.

Casamento na nobreza

Os nobres não moravam juntos ao se casarem. O homem possuía residência própria e freqüentava a casa da mulher, que tinha o dever de, com sua família, criar os filhos. A família da mulher também cuidava do marido, vestindo-o e alimentando-o. Tanto a mulher como o homem podiam manter relação com outros parceiros, porém sempre tratando a todos com igual respeito e consideração.

Esse tipo de casamento explica o grande poder e influência que o sogro exercia sobre o imperador, ao casá-lo com sua filha, muito embora o monarca construísse uma residência para suas esposas, em vez de visitá-las na c

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zou-tanuki (“texugo, comprador de saquê”).

No Japão é comum encontrarmos na entrada de algumas lojas um gracioso animal – o tanuki. Sua presença indica que naquele estabelecimento é vendido o saquê e outros tipos de bebidas alcoólicas. 

Feito de cerâmica, ele pode ser encontrado em todos os lugares, mas é um pouco mais difícil de se deparar com o verdadeiro animal. O tanuki é uma criatura de pernas curtas, razoavelmente corpulenta, com um pequeno e espesso rabo, e é membro da família dos caninos. Embora o nome do tanuki em inglês seja ‘cachorro raccoon’, ele é freqüentemente confundido com o texugo japonês, anaguma, um animal completamente diferente.

Foi desde o início da Era Edo que a população passou a consumir o saquê refinado. Nessa época, os adultos mandavam as crianças aos Sakaya (lojas de bebidas alcóolicas) e essas retornavam à sua casa com uma garrafa de saquê (tokkuri). Antigamente, os produtores de saquê de Nada (região de Hyogo) diziam “Sem a presença de um texugo pequeno, não é possível fabricar um saquê delicioso!!!”. Segundo este ditado, para produzir um saquê de qualidade é necessário tradição e experiência. Assim, foi criado kozou-tanuki. Desde então, o Tanuki passou a ser visto também como um amuleto de sorte.

Folclore:

No folclore japonês, o Tanuki possui grande força física, e poderes sobrenaturais, incluindo poder de transformação e, assim como a raposa vermelha, chamada kitsune , é um mestre do disfarce que utiliza para iludir ou irritar as pessoas.

É uma criatura travessa, utilizando todas as formas de disfarces para iludir ou perturbar os viajantes. Posicionando-se em pé na calçada com suas patas traseiras, ele distende sua barriga (ou melhor, região pélvica), e bate nela com suas patas dianteiras. O tanuki também é simbolizado numa forma semelhante a uma raposa, fazendo brincadeiras loucas, perigosas e de mau gosto com sua enorme barriga, que mede oito tapetes de tatami!

Devido à sua pança, o Tanuki é associado com duas outras figuras que possuem grandes estômagos, o peixe Fugu (Baiacú), e Hotei, o gordo, Deus da Sorte. Também é dito que ele tem alguma ligação com a chaleira, por causa de sua aparência. O Shogun, Ieyasu Tokugawa, era irreverentemente referido como Furu Tanuki, velho Tanuki. A expressão ‘Tanuki-gao’ é às vezes utilizada para descrever mulheres de rosto redondo. No Japão dos dias de hoje então, você freqüentemente vê a estátua de um Tanuki do lado de fora de uma loja ou restaurante, sinalizando aos clientes que venham visitar o estabelecimento.

As suas oito características peculiares são conhecidas como “hassou engi” (cada característica associada a uma lição):

1- O chapéu japonês de bambu do kozou-tanuki significa proteção contra desastres inesperados.

2- Os olhos grandes significam a decisão certa.

3- A expressão amorosa do kozou-tanuki diz para nunca esquecer o sorriso no rosto.

4- A garrafa de saquê significa que esforço do dia-a-dia resulta nas virtudes que cada um possui.

5- O livro significa valorização da confiança e importância da caderneta financeira(o sucesso financeiro). No livro há um símbolo  hachi (kanji de 8). Este símbolo, brasão da família Owari Tokugawa, significa seu domínio sobre Owari-hachi-gun. Na epoca, Tokugawa Ieyasu tinha o apelido de ”Tanuki”  e, por isso, a introdução do brasão no livro foi aceito com grande sucesso.

6- A barriga saliente significa serenidade e equilíbrio para tomadas de decisão.

7- O saco com dinheiro expressa capacidade de aumentar riqueza e sabedoria para utilizar o dinheiro sem desperdícios.

8- O formato da cauda do texugo (cauda grossa com ponta afinada) significa que as tarefas que foram iniciadas devem ser executadas firmemente até a sua conclusão.

Essas estátuas são vendidas em lojas, e os tanuki geralmente são representados segurando uma garrafa de saquê e, como uma amostra do ácido humor japonês, com testículos exagerados. Acreditam que esses testículos (chamados coloquialmente de kintama – literalmente, “bolinhas douradas”) são símbolos de boa sorte.

 

O Animal original:

No passado, ele era caçado no Japão pela sua carne, sua pele marrom e preta (utilizada para fazer pincéis), e seus ossos, aos quais eram atribuídas qualidades medicinais. Eles foram introduzidos nas partes ocidentais da antiga U.S.S.R. para o cultivo de peles. Alguns escaparam (ou foram soltos), e desde os anos 50 espalharam-se pela Escandinávia e sul, chegando até na França.

Eles vivem em áreas altamente arborizadas, geralmente próximo à água, alimentando-se de invertebrados, pequenos animais (sapos, lagartos, roedores e pássaros que vivem ou constroem seus ninhos no chão) e (particularmente no outono), sementes e frutas silvestres. Quando vivem próximos ao mar, os tanukis também procuram comida ao longo da linha da maré, buscando caranguejos e outros animais marinhos que ficam expostos. Eles são mais ativos após o pôr do sol, e ao longo do anoitecer, depois novamente nas primeiras horas da manhã, período no qual eles podem chegar a vagar por 10 a 20 km, em busca de comida.

Como os tanukis entraram em áreas suburbanas e até urbanas no Japão durante os anos 80 e 90, começaram a procurar comida em aterros de lixo, e chegam até a ser alimentados por pessoas, em seus jardins, que é uma das razões que fazem com que eles sejam associados aos texugos, que sobrevivem nos aterros de lixo de muitas cidades. É improvável que você veja um tanuki durante o inverno porque, embora ele não hiberne, acumula gordura no outono e então recolhe-se à sua toca, desde novembro até meados de abril. Ele pode surgir algumas vezes para se alimentar, e nos períodos mais quentes, pode chegar a ficar sem dormir.

O futuro do Tanuki é incerto, já que muitos tanukis têm sido afetados pela ‘sarcoptic mange’, uma condição causada por um parasita. Os tanukis que contraem esse parasita sofrem deterioração de pele, e progressiva perda de pêlo, deixando-os parcialmente, ou completamente, sem pêlos. Nesse estado, a probabilidade que eles sofram e morram de hipotermia aumenta enormemente, e desde por volta de 1990, muitos têm sido encontrados mortos durante o inverno. Ao que parece, o parasita conseguiu espalhar-se de áreas suburbanas com altas densidades de tanukis até áreas selvagens também, levando a sérios declínios particularmente nas populações dos estados de Kanagawa e Miyagi. Durante o final dos anos 80 e início dos anos 90, o parasita espalhou-se rapidamente, e os números de animais infectados aumentaram bastante.

Por outro lado, os números de caçadores no Japão decaíram durante os anos 80, e num período de 10 anos, o número de tanukis mortos por caçadores caiu pela metade, de um pico de aproximadamente 75,000 em 1981, para aproximadamente 33,000 em 1990. Isso pode, de alguma forma, estar contrabalanceando o efeito do mange sobre a população de tanukis durante os últimos vinte anos.

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O poder do Jitte

Texto muito bom sobre o Jitte que um amigo meu me enviou. Uma arma muito interessante. Não sei se os dados de pessoas e fatos são verídicos e de onde se originou o texto mas considerei ainda assim de interesse. Se alguém souber origem e veracidade de fatos e datas por favor nos informe.

Em primeiro lugar devo dizer que Jitte é uma arma e era usada pelos Samurais para desarmar um adversário que estava portando uma Katana – a espada Samurai.Quem vê pela primeira vez um samurai portando um jitte pode não se impressionar muito. Formado por um bastão de metal de aproximadamente 45 cm, com cabo feito por cordões e pequena haste projetada no final da empunhadura, não parece ser uma ferramenta eficaz contra a mortífera espada samurai. Esta primeira impressão é desfeita logo que se vê o samurai utilizando a Jitte. Capaz de desarmar ou até mesmo quebrar espadas, esta arma foi usada por séculos pelas forças policiais dos samurais, por permitir vencer sem precisar matar ou ferir gravemente o atacante.

O próprio nome da arma, Jitte, dá uma amostra de seu poder. Formada pelos caracteres ju (dez) e te (mão), significa dez mãos, ou seja, com a Jitte é possível um homem ter a força de dez, graças ao perspicaz uso da alavanca formada pela haste de metal ao prender a espada do oponente.

Se precisar, a jitte também podia ser usada com força letal. Tanto a haste projetada como as extremidades do bastão podiam ser usadas para golpear e causar um trauma severo.
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Durante o Japão feudal, a cor do cordão trançado do cabo do jitte podia designar o posto de seu dono dentro da hierarquia militar. Comparando-as com as patentes militares atuais, teríamos as seguintes associações:

Vermelho-violeta Coronel, General
Violeta Tenente, Capitão, Major
Vermelho-alaranjado Cabo, Sargento
Preto Soldado

Na época dos samurais havia muitos estilos de Jitte. Destes estilos, o principal em nossos dias é o Ikkaku Ryu.

Falando em Jitte, vejo-me obrigado a falar sobre um grande mestre da atualidade, Kaminoda Tsunemori Sensei.

Kata de jitte executado por Kaminoda Sensei

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Kaminoda Sensei foi Uchi deshi de Shimizu Takaji Sensei, o 25° sucessor de Muso Gonnosuke e maior mestre de Jô da primeira metade do século XX. Shimizu Sensei era filho de samurais e amigo pessoal do fundador do Judô, Jigoro Kano.

– Viajou por todos os continentes ensinando o Jojutsu.

– Foi responsável pela introdução do Jojutsu na polícia japonesa, onde até hoje é utilizado para controle de multidões.

– Foi responsável pela implantação da segurança da JAL (Japan Air Lines), onde treinou seguranças e funcionários do staff a lidarem com situações de risco como seqüestros e o controle de tumultos.

– Foi instrutor do FBI e responsável pelo treinamento de um dos atores que encarnou nos cinemas o papel de James Bond.

– Em seu trabalho na polícia metropolitana de Tókio enfrentou um mafioso armado com um katana real. Kaminoda Sensei utilizou um jitte para desarmá-lo e em seguida o amarrou por meio do hojojutsu (antigas técnicas samurai para imobilização).

– É reconhecidamente o maior mestre da atualidade no Shindo Muso Ryu Jojutsu, estilo que herdou de Shimizu Sensei.

É isso aí amigos, agora teremos muito mais inspiração no momento em que estivermos executando o Kata Jitte. Como todo Kata, é claro que serão necessários anos de prática para compreender um pouco sobre ele, mas quem é que está com pressa? Eu não…

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O surgimento dos samurais

Confrontos e revoltas históricas marcaram o surgimento de uma nova classe social: a dos samurais.

A Era Heian marcou o surgimento e a ascensão dos samurais e de seus principais clãs, que entraram para a história do arquipélago com suas lutas e revoltas, episódios nos quais eles mediram forças na luta pelo poder. Essa nova classe passou a integrar a estrutura social da época ao lado da nobreza tradicional.  Surgimento da classe dos bushi (samurai) Enquanto a nobreza, liderada pela família Fujiwara, levava uma vida de muito luxo e requinte, os senhores rurais, donos de shôen, foram aumentando o seu poder de combate treinando guerreiros primeiro para proteger suas terras da invasão alheia, depois para conquistar novas terras. Esses senhores rurais se tornaram funcionários de kokushi (espécie de governador), administradores rurais ou guardiães das terras, recebendo títulos de nobreza ínfima. Eles passaram a liderar grupos de guerreiros, ou seja, de bushi, que nutriam grande admiração pela vida luxuosa da capital. Assim, os nobres enviados ao interior como kokushi pela corte Yamato recebiam tratamento especial, extremamente respeitoso.  Dessa forma, entre os nobres mandados para o interior como kokushi, surgiram aqueles que preferiram permanecer no campo, mesmo após o término do seu mandato, já que não havia perspectiva de uma vida melhor na capital. Alguns nobres que optaram pela vida rural formavam seus grupos de bushi (samurai), formando tropas de combate e tornando-se seus líderes, iniciando, dessa forma, a criação dos clãs.  A Revolta de Masakado Em 939, Taira-no-Masakado reuniu os bushi insatisfeitos com os enviados da corte que governavam as suas regiões e voltou-se contra o poder da capital. Declarou-se imperador e iniciou a revolta contra os nobres da capital, atribuindo poderes aos bushi, seus seguidores.  A revolta de Masakado foi contida por Fujiwara-no-Hidesato, outro nobre que tinha se instalando no interior (atual província de Tochigi) e por seu primo, Taira-no-Sadamori. Masakado morreu durante a batalha.  Famílias Minamoto e Taira Com o objetivo de reconquistar o controle do país e refrear o poder da família Fujiwara, o imperador Gosanjô (1034~1073) criou o sistema de insei, pelo qual foi introduzido o cargo supremo de jôkô, que conferia ao imperador que abdicou o poder de governar em nome do novo imperador. Assim, Gosanjô abdicou do trono em favor de Shirakawa (1053~1129) e tornou-se jôkô, governando o país pelo sistema diárquico. Por não ter nenhum parentesco com a família Fujiwara, Gosanjô conseguiu governar o país livremente ao longo de 43 anos como jôkô de três imperadores, contando com a proteção de Minamoto-no-Yoshiie. Enviada para combater os povos de Ezo, a família Minamoto pediu auxílio aos guerreiros da região leste da ilha principal do Japão, com os quais conseguiu vencer a batalha e criou fortes laços. Para conter o crescente poder dos Minamoto, Gosanjô encarregou também a família Taira do serviço de proteção.  Uma guerra entre as famílias destacou-as no panorama político pela primeira vez na história do Japão, em 1156, com a Revolta de Hôgen. Em 1159, a Revolta de Heiji colocou frente a frente os Minamoto e os Taira na luta pelo poder. A batalha foi vencida pela família Taira, que passou a controlar politicamente o Japão. Em 1168, Taira-no-Kiyomori (1118~1181), chefe da família Taira, ocupou o cargo de ministro, dajô-daijin, tornando-se o primeiro samurai a ocupar tal posição. A família Genji ficou, então, à espera da revanche.  Minamoto-no-Yoritomo da família Genji, que havia sido exilado em Izu-no-Kuni (província de Shizuoka), junto com seu sogro, Hôjô Tokimasa, atacou a família Taira em Izu-no-Kuni, mas foi derrotado. Porém os comandantes de guerreiros da região de Kantô juntaram-se a Minamoto-no-Yoritomo. Seu irmão, Yoshitsune, conhecido por sua bravura, também saiu de Ôshu-Hiraizumi (província de Iwate) e passou a lutar ao lado de Yoritomo, que conseguiu, lentamente, instalar-se em Kamakura.  Acometido por uma febre alta, Kiyomori faleceu pedindo, em seu leito de morte, a cabeça de Yoritomo, em 1181.  O último confronto entre os sobreviventes da família Taira e as tropas de Genji aconteceu na Baía de Dan-no-Ura (província de Yamaguchi). A batalha foi vencida pelas tropas de Genji, em 1185. O pequeno imperador Antoku, neto de Taira-no-Kiyomori, morreu junto com sua mãe, filha de Kiyomori, nessa batalha, encerrando, assim, a Era Heian. Em 1192, Minamoto-no-Yoritomo instalou-se em Kamakura, dando início ao shogunato Kamakura. Esse foi o começo da era dos samurais no Japão.  A ascensão e a queda da família Taira, ou seja, Heike, pois a leitura chinesa do ideograma da família Taira é = Heike, foi narrado pelos biwa-hôshi, uma espécie de menestrel. Sua narrativa é conhecida como Heike-Monogatari (contos da família Heike), cujo tema central é a efemeridade da vida.  A vida na corte Enquanto os bushi levavam uma vida austera, dedicando-se ao treinamento de artes marciais, os nobres se esmeravam em luxo e requinte. Eles vestiam várias camadas de roupas e valorizavam as combinações das cores que se entreviam em golas, mangas e barras, no caso das mulheres. Assim, além da qualidade do tecido, os nobres preocupavam-se também com as cores e seus efeitos. Existiam algumas cores usadas conforme a classe social do indivíduo.  Os nobres dessa época carregavam na maquiagem. Depilavam as sobrancelhas e desenhavam-nas com tinta de carvão. As mulheres adultas tingiam os dentes de preto.  O perfume de incenso, que foi introduzido no Japão junto com o budismo, era usado no dia-a-dia pelos nobres. Cada um criava seu próprio perfume misturando no mínimo dois tipos de incensos. Os nobres perfumavam os seus trajes queimando os incensos para que suas roupas ficassem impregnadas com o perfume criado.  A beleza feminina era medida pelo comprimento dos cabelos, que deviam ser longos, negros e sedosos. O máximo de beleza era ter cabelos mais longos que a própria altura, não ser muito magra e ter a pele bem branca.  Hábitos alimentares dos nobres A alimentação da nobreza era modesta. O prato principal era o arroz, cozido com a água ou no vapor, acompanhado de peixes, carne de aves, verduras, algas e frutas. Os peixes eram, em sua maioria, secos ou conservados na salmoura. Por influência do budismo, muitos não consumiam peixes ou carnes, ficando desnutridos e doentes. A refeição era feita duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde.  Casamento na nobreza Os nobres não moravam juntos ao se casarem. O homem possuía residência própria e freqüentava a casa da mulher, que tinha o dever de, com sua família, criar os filhos. A família da mulher também cuidava do marido, vestindo-o e alimentando-o. Tanto a mulher como o homem podiam manter relação com outros parceiros, porém sempre tratando a todos com igual respeito e consideração.  Esse tipo de casamento explica o grande poder e influência que o sogro exercia sobre o imperador, ao casá-lo com sua filha, muito embora o monarca construísse uma residência para suas esposas, em vez de visitá-las na casa de seu sogro.