Author Archive for walter amorim

02
dez
10

Mudança de endereço

Olá amigos!

Migrei esse blog agora para um novo endereço.

A partir de agora ele está em www.gansekikai.org  seção de artigos.

Também podem acessar nossa página no facebook. Aqui!

Toda a sua base de dados está lá e mais os novos posts que tenho colocado.

Atualizem seus bookmarks, por favor  e  obrigado por visitarem nosso blog.

10
nov
10

Lembranças de Tamura Shihan

O emocionante artigo a seguir foi escrito por Yamada Sensei e enviado a seus alunos .

 

Outra, talvez a última das grandes estrelas da sociedade do Aikido se foi.

O conhecimento de Aikido de Tamura Sensei fez dele a maior influência na Europa e no resto do mundo pelos últimos 45 anos. Senpai (em japonês, veterano), como eu o chamava, era bem conhecido como o Uke de O-Sensei enquanto era uchideshi e é desnecessário dizer que ele foi o assistente de O-Sensei em sua viagem ao Havaí, há aproximadamente 50 anos. Para os japoneses, naquele tempo, era um sonho ir ao Havaí. Então todos nós o invejávamos.

Os movimentos de altíssima qualidade técnica de Senpai vieram em grande parte por ter sido uke de O-Sensei. Ninguém pode copiá-lo. Se você tentar fazê-lo, será somente divertido. Contudo, eu tentei roubar dele tudo que acreditei que poderia ser útil para mim.

Em março passado, estive com ele ministrando o seminário anual em Madri, e em abril ele me informou sobre algumas mudanças em sua saúde. Em maio e junho fiz algumas visitas a ele em sua casa. Na minha segunda visita, fiquei muito impressionado com sua atitude, tão calma, serena e relaxada. Pareceu-me que ele estava se preparando para longas férias.

Senpai já era uchideshi quando eu me tornei um. Passávamos a maior parte do tempo juntos. Em 1964, eu saí do Japão para Nova York e, na primavera do mesmo ano, Senpai também deixou o Japão com sua esposa e foi para a França. Senpai costumava brincar: “Eu esperei até você ir primeiro e nos mostrar como poderia fazê-lo. Agora que você conseguiu, posso me decidir”. Aquilo não era verdade. Não houve ninguém que fosse mais confiante do que ele foi. Ele não apenas sobreviveu, mas tornou-se um grande sucesso na Europa.

Estou escrevendo este artigo durante o Curso Anual de Verão no sul da França. Fizemos este seminário juntos por quase 30 anos, portanto é muito emocionante pra mim. O que vem à tona são os ótimos momentos que tivemos juntos durante os seminários em vários países.

Nadamos em Nice cercados de beldades em topless, andamos de burro ao lado de um penhasco em Marrocos. Em Marrakesh, Marrocos, uma cobra foi enrolada em torno do meu pescoço para uma foto. Voamos perto de Angels Falls na Venezuela num pequeno avião Cessna. O cheiro em uma academia na Ioguslávia era tão ruim que Senpai foi embora dizendo: “Você termina isso!”. Viajamos pelo Japão com amigos, e durante esta viagem fomos a um karaokê e eu tive que cantar um dueto com Senpai, que não tinha nenhum senso musical.

Muito obrigado por essas memórias maravilhosas que tivemos juntos. Tenho orgulho de mim por ter sido seu parceiro.

Ele costumava dizer que conhecer várias pessoas através do Aikido era sua felicidade. Mantendo este pensamento em mente, vou fazer o meu melhor para lidar com as pessoas que eu possa conhecer em minha vida.

Eu acreditei num milagre, mas ele não aconteceu. Entretanto, fiquei muito contente de saber que ele estava nos braços de sua esposa em seus últimos momentos. Ele sempre esteve com sua amada esposa, quase 24 horas por dia, então ele merecia isso.

Deixe-me dizer mais uma vez: Estou muito feliz por ele. E o invejo da mesma maneira que o invejei quando o vi como uke de O-Sensei. Eu o invejei por tudo que ele fez com o seu Aikido.

Por favor, volte de suas férias o quanto antes. Tenho um Bordeaux 1995 nos esperando. Vamos beber juntos novamente.

Y. Yamada

Extraído do site do senshin Aikido

08
nov
10

Aikido e os aikidos ou Aikido e flores verdadeiras

Tamura Sensei - * 1933 / + 2010Artigo de Nobuyoshi TAMURA Sensei, 1979. Publicado originalmente na Revista da Federação Europeia de Aikido com o título “O Aikido e os Aikidos”
O Mestre Nobuyoshi TAMURA foi delegado da Aikikai de Tóquio para a Europa. Nasceu em 1933 em Osaka, em 1953 entra no AIKIKAI HOMBU DOJO como uchideshi do fundador Morihei Ueshiba. Em 1964 é enviado para França pelo fundador onde permaneceu até hoje.  Em 1999 é condecorado pelo governo Francês com a ordem “Chevalier de l’ordre National du mérite”. Faleceu em 2010.

Aikido e flores verdadeiras

Hoje em dia qualquer de nós pode ver no supermercado, no restaurante ou sobre uma tumba, e até nas igrejas, flores artificiais. Estas flores são fabricadas tão delicadamente que às vezes podemos confundi-las com as verdadeiras flores; são práticas, não necessitam nem de sol nem de água, são eternas e por muito tempo uma alegria para os olhos.
No entanto não suporto tais flores perto de mim. Não têm verdadeira vida. São todas parecidas, nenhuma difere da outra, nenhum botão com vida, sem rebentos, sem perfume e, quando chega ao Outono, não há sementes, nem folhas amarelas ou avermelhadas. Nem sequer caiem. É a imobilidade, e apesar da beleza das cores e das formas, a impressão que se experimenta é a de um mundo morto.
Em contrapartida, acerca das flores verdadeiras, frágeis, efémeras, mutáveis, nunca estáveis, sentimos o fluxo de uma vida eterna. Flores desaparecidas, folhas caídas no solo húmido do Outono, o silêncio imóvel do Inverno, sabemos que há aí uma promessa de vida, o retorno da Primavera.

As flores artificiais, tão belas, tão parecidas com as verdadeiras, que requereram para o seu fabrico tanta imaginação e talento, não serão nunca flores verdadeiras. Essas flores levam consigo tristeza eterna, o pesar de uma vida que não conhecemos, que não soubemos dar-lhes.
O Mestre Ueshiba faleceu em 1969, faz dez anos. Mas a sua imagem está sempre presente diante dos meus olhos. Vejo-o, sorridente, indo e vindo, ensinando.
Dez anos é pouco tempo, mas o que é que vemos? O que é que ouvimos? Quantos dizem: “O meu aikido é o verdadeiro Aikido”, “o meu Aikido é a evolução moderna do Aikido”, “eu ensino Aikido”. Surgem escolas… de onde vêm?
Confesso que não compreendo, este fenómeno não me entra na cabeça.
Mas o Aikido, todos os Aikidos, provêm de uma semente plantada por O’Sensei. Se são tão diferentes é, sem dúvida, porque nem todos cresceram na mesma terra, porque não receberam o mesmo sol, isso é o que explicaria a sua diferente cor, o seu aroma mais ou menos intenso, mas de qualquer modo são todos Aikido nascidos da mesma espécie, da mesma família.
No entanto, às vezes, chamamos Aikido a uma flor que não surgiu da mesma família de flores. Por exemplo, em França e Bélgica chama-se “achicoria” a duas plantas totalmente diferentes. Isto é aceitável e explica-se pelo facto dos homens poderem confundir as palavras e dar, assim, uma falsa denominação sem graves consequências.
Mas se alguém diz que uma túlipa artificial é da mesma família que uma túlipa verdadeira e que por isso devemos catalogá-la ao lado desta, isso é inaceitável.
Um falsificador que imita o quadro de um grande mestre comete uma falta que, no entanto, não é igual à de quem quer fazer crer que a flor artificial é uma flor verdadeira.
Na flor real há vida, na outra, pelo contrário não há vida.
Este tipo de falsificação é um ataque à divindade, uma blasfémia.
Aquele que pretende aprender Aikido por livros e filmes, ou ainda pior, a partir da sua imaginação que o leva a inventar movimentos, e que de seguida recebe dinheiro pelo seu ensino, este deveria saber que no seu Aikido não há rasto da herança de O’sensei, não existe a vida que o Mestre transmitiu. É um Aikido artificial. Acho que receber dinheiro e enganar as pessoas deste modo, é um crime.

08
nov
10

AIKIDO YOSHINKAN

O Yoshinkan Aikido foi fundado por Gozo Shioda Sensei (1915-1994), um dos primeiros alunos de Morihei Ueshiba Sensei. O estilo se mantém bem próximo do Aikido tradicional criado por Ueshiba Sensei, com ênfase nas técnicas ensinadas pelo O Sensei durante o período anterior à II Guerra Mundial.

A palavra YOSHINKAN significa “local para o cultivo do espírito”, onde

YO: treino, cultivo

SHIN: espírito

KAN: casa, lugar

O estilo segue o principio de que Aikido é Harmonia, que pode ser alcançada por meio de treino e dedicação, produzindo resultados positivos para o praticante e para todos a sua volta.

O nome Yoshinkan foi adotado por Gozo Shioda Sensei por ter sido o nome de um antigo dojo particular de seu pai, um influente médico que apreciava as artes marciais e incentivava seus alunos a praticarem o Judo como forma de se manterem saudáveis.

Este estilo de Aikido foi muito difundido no Japão após a II Guerra Mundial graças aos esforços de Shioda Sensei e logo foi conhecido como o estilo oficial usado pelas Polícias de Choque, Metropolitana e Feminina de Tóquio, atraindo com o tempo muitos estrangeiros para os estudos e práticas da arte.

Com o aumento do número de estrangeiros e ocidentais a praticarem a arte, Shioda Sensei freqüentemente recebia questionamentos como: “qual a angulação correta da perna”, “qual a porcentagem do peso do corpo que deve ser destinada à frente”. Esses detalhes analíticos ocidentais não eram visados no estilo ortodoxo japonês dos ensinamentos do Budo e provavelmente causaram estranheza por parte dos instrutores. Para atender os anseios dessas perguntas e para manter uma padronização, os Sensei introduziram um sistema educacional utilizando ângulos aproximados e o desenvolvimento do aprendizado das técnicas utilizando uma contagem.

Esse método facilita o aprendizado dos passos intermediários que em conjunto formarão a técnica básica. Por outro lado, faz com que os movimentos percam muito de sua flexibilidade e fluidez, chegando a causar estranheza à primeira vista. Por esse motivo o estilo ficou conhecido como Aikido ”duro”.

Portanto, “duro” não se refere à truculência e não tem a ver com o fato de ser um estilo anterior à Guerra ou por ser utilizado pela polícia de Tóquio e sim ao método de aprendizagem.

O fundamento do treinamento do Yoshinkan Aikido baseia-se em uma série de movimentações básicas. O movimento do corpo, equilíbrio, foco e uma atitude mental são criados pela repetição do treinamento dos movimentos básicos que são ensinados até o todo possa ser visualizado. Cada técnica pode ser vista como uma série de movimentos agrupados.

O Aikido Yoshinkan se utiliza do atemi como forma de distração para aplicação das técnicas. No Budo, O-Sensei enfatiza a força no atemi como um pré-requisito para técnica tradicional e Shioda Sensei manteve estas características. A variação do significado do atemi é muito efetiva e permite a uma pessoa menor ou fisicamente mais fraca efetuar técnicas sobre pessoas maiores e fortes. O atemi também permite ao shite controlar a movimentação de acordo com o tempo e intensidade da técnica, além também de auxiliar no direcionamento do movimento.

Em 1990 Gozo Shioda Soke e seu filho Yasuhisa Shioda Sensei estabeleceram a International Yoshinkan Aikido Federation (IYAF), que em 2008 foi transformada em Aikido Yoshinkai Foundation (AYF), que visa divulgar o Aikido Yoshinkan pelo mundo com respeito e harmonia.

Segundo AYF, Yoshinkan não é um esporte. É um desenvolvimento e fortalecimento do corpo e da mente, que aliados à pratica do Aikido nunca devem ser esquecidos. Portanto, Aikido é para todas as pessoas, não importando a idade, sexo, raça e cultura.

A filosofia da arte é a mesma proposta por O-Sensei: eficácia em defesa pessoal com muito amor e controle da agressividade. A Yoshinkan só difere, portanto, na forma do ensinamento básico. É um estado de espírito, um sentimento, que para ser percebido, deve ser praticado.

b

Conforme você envelhece, seus músculos perdem a força,

E você não consegue mais erguer e puxar.

No final há um limite para a força física, não importa o quanto você a desenvolva.

É por isso que Ueshiba Sensei diz que força ilimitada

Vem do poder da respiração

Em fato, é baseado em princípios naturais.

Se a outra pessoa vem impetuosamente contra você,

E você reage simplesmente usando esse poder,

Não há necessidade para esforço algum.

Gozo Shioda Soke

Extraído do site: aikido Ikeda

19
out
10

Mudança interior e de comportamento por meio das artes marciais.

…..O Japão é um país de tradição belicosa. Durante séculos, houve conflitos de diversas escalas configuraram mente e espírito deste povo. Desde a formação do império, as tentativas de invasão mongol e a era das guerras civis (Sengoku Jidai), os japoneses sempre tiveram a consciência de que seu país era pequeno e limitado em termos de recursos naturais. Quase insignificante perto de potências estrangeiras, tal como a imensa China continental. Essa noção de inferioridade territorial possivelmente fez com que percebessem que sem o mais árduo esforço em desenvolvimento, poderiam ser dominados a qualquer momento.

 

Yabusame – belíssima tradição guerreira

 

…..Uma vez que os recursos disponíveis são limitados, é necessário um grande cuidado no seu uso e uma extrema especialização daqueles que estão envolvidos nas principais atividades de produção. Uma metodologia muito desenvolvida é requerida para produzir e passar os conhecimentos adiante.

…..Os japoneses são conhecidos no mundo todo por duas características principais: serem muito metódicos e decididos. Método e decisão são elementos básicos de processos administrativos que visam contemplar e desmantelar um problema para, através da criatividade e/ou esgotamento de possibilidades, alcançar uma solução. Reflexo da necessidade de analisar muito bem os pormenores para não desperdiçar recursos valiosos. Já o elemento decisão tem a ver com a certeza de que está no caminho certo, após muito ponderar. Posso afirmar que é um reflexo tanto disso quando da objetividade marcial inata deles, que segundo princípios elementares, um ataque hesitante, sem uma absoluta certeza pode falhar. Uma vez decidido, um japonês iria até o fim. Quem nunca ouviu falar que um japonês é “oito ou oitenta”?

…..Essa capacidade de síntese entre método e decisão, além de trabalho árduo levou seu país ao status de 2ª maior economia do mundo poucas décadas após uma destrutiva guerra. Mas qual é a origem de tal pensamento metódico e dessa sede de aperfeiçoamento?

…..Os treinamentos marciais japoneses levam em consideração tais elementos e por conseqüência, tornam-se ferramentas para o desenvolvimento espiritual do guerreiro/lutador/praticante. Abro um parêntese aqui para esclarecer sobre o emprego do termo “espiritual”: diferente do pensamento ocidental, onde espiritualidade está fortemente conectada com religiosidade, aqui o emprego da palavra se refere ao domínio da mente sobre as necessidades do corpo, utilizando-se da força de vontade interior para extrapolar limites físicos e disciplinar aspectos considerados negativos da personalidade humana, como preguiça, falta de perseverança e agressividade. Diz se que treinar o espírito é treinar a vontade de vencer.

 

Treino de Aikido

…..Ao se tornar cada vez mais experiente em sua tarefa, os detalhes técnicos são amplamente estudados em sua forma mais básica, possibilitando ao corpo reagir com posturas e movimentos considerados corretos pela teoria da arte em questão. A partir desse ponto é que possivelmente perceber que a evolução é diretamente proporcional ao esforço investido no planejamento técnico e físico do treinamento. E sem dúvida, algo muda na mente deste praticante maduro.

…..Tornando-se graduado em sua arte, é possível perceber que existe uma forte confiança em sua força e sua técnica, que o leva reflexões cada vez mais profundas a respeito da natureza do conflito, da agressão e da defesa pessoal.

…..A violência e uma eventual fatalidade são consideradas contraproducentes. É interessante que, através do treinamento de técnicas violentas percebemos que é lamentável que uma situação vá até o ponto onde elas sejam necessárias. Parece que, somente onde falha a diplomacia é que o uso da força militar será necessária. E a falha da diplomacia é a falha do próprio treinamento, tanto valorizado.

…..Eis aqui o ponto onde podemos introduzir a noção de “caminho”. JuDO, Aikido, Karate-DO, KenDO. Todas essas artes carregam o sufixo que indica que são mais do que uma mera prática marcial voltada para o conflito. Suponho que uma boa adaptação do termo “caminho” (道) seria “vivência” , pois a despeito de formulações históricas, tais artes podem ser consideradas meios de desenvolvimento físico e mental, onde o praticante está conectado a uma série de conceitos morais, éticos, filosóficos e até mesmo religiosos, que influenciariam seu modo de ser e pensar, pela vivência segundo tais princípios.

O Objetivo do Aikido é disciplinar o caráter humano pela aplicação dos princípios da espada japonesa.

O propósito de se praticar Aikido é:

Moldar a mente e o corpo,

Para cultivar um espírito vigoroso,

E pelo treinamento rígido e correto,

Lutar para desenvolver-se na arte do Aikido,

Obter respeito à cortesia e à honra,

Para relacionar-se com os outros com sinceridade,

E para sempre ter como objetivo o auto-aperfeiçoamento.

Dessa maneira será possível uma pessoa amar seu país e sociedade, contribuir para o desenvolvimento da cultura e promover a paz e prosperidade entre todos os povos.

…..Porém, muitos praticantes de artes marciais acabam por se tornar “mestres de si mesmos” ao se tornarem “teóricos marciais”, com conhecimento e discurso daquele que se considera esclarecido nesta complexa vivência, mas sem a carga de treinamento necessária para a real compreensão daquilo que se está falando. Mesmo o espírito estando aparentemente polido, o corpo pode não estar talhado suficiente para que haja real compreensão daquilo que a arte propõe. Estaria próximo da hipocrisia: muito se fala por discursos prontos e frases de efeito, pouco se faz ou se mostra.

…..Mesmo assim, é possível detectar uma mudança de comportamento no praticante de artes marciais, um tanto independente de qual seja. Fazer uma pessoa viver de acordo com princípios éticos, morais e afins geralmente foi papel da educação familiar, amparada pela orientação religiosa. E a possível falta destes valores na sociedade atual talvez se tenha criado um novo nicho para a arte marcial: a doutrinação espiritual.

 

Mokuso – meditação

…..Todo praticante de arte marcial conhece alguém que pode ser considerado um fanático em sua arte. Aquele colega considerado “bitolado”, não necessariamente talentoso, que vive e respira os conceitos da arte e os exterioriza sempre que pode para aqueles que tem paciência para ouvi-lo. O treino torna-se o centro de sua suposta recém adquirida moral e seu instrutor se torna o ídolo máximo – geralmente considerado invencível. Percebe-se um paralelo muito claro em relação ao fanatismo religioso.

…..Geralmente, esta mudança pode ser considerada positiva (explico a seguir) mas aconselho para ter cuidado para não se envolver com charlatães. Falsos mestres se aproveitam de pessoas leigas em cultura oriental e na estrutura federativa das modalidades marciais para extorquir dinheiro.

…..Mas retornando aos efeitos psicológicos negativos do treino levado exageradamente a sério: o praticante começa a se sentir superior e mais esclarecido do que qualquer outra pessoa ao discutir os aspectos marciais de sua arte ou de outras modalidades. Essa arrogância pode levá-lo a tratar mal novatos e pessoas leigas que se atrevem a ter uma opinião, além de possuir um sentimento falso de que é “digno” suficiente para treinar, e se acha no direito de julgar a motivação de outras pessoas em relação ao treinamento. Em casos extremos, torna-se um indivíduo alienado e violento, ansioso por testar suas habilidades, sozinho ou em grupo, possivelmente em pessoas leigas e fisicamente menos privilegiadas.

…..Mas nem tudo é exaltado pelo ego ou por fanatismo. Por outro lado, existe o preenchimento de valores que até então poderiam estar ausentes de prática, percebidos como virtudes necessárias para o desenvolvimento do bom praticante de artes marciais. E este é o ponto onde o valor do treinamento é justificado no discurso de grandes mestres e veteranos de prática.

…..Existe um estado de comparação entre a prática marcial séria e o cotidiano pessoal e profissional. Situações e atividades simples são desenvolvidas com mais cuidados, mais atenção, concentração e observação. Decisões envolvendo pessoas começam a ser mais bem planejadas, através de estratégia tanto de conduta do tratamento aos indivíduos quanto dos benefícios e ganhos como consequência. Essa mudança de postura do praticante é creditada à arte marcial, que através do treinamento esclarece a necessidade da cortesia e educação – graças à presença de um instrutor orientador e colegas parceiros de treino é que a evolução do aprendizado se torna possível. Sozinho, treinando golpes a esmo, nem sempre.

…..Dessa forma, é comum que as pessoas mais próximas do praticante de artes marciais percebam sutis mudanças em seu comportamento. Tal qual um iniciado em alguma doutrina religiosa, suas ações e palavras denunciam que ele abraçou uma nova postura em relação a vida. E muitas vezes, não faltam comentários ou brincadeiras de amigos e familiares utilizando o termo “lavagem cerebral”.

…..O fato é que, uma vez que pessoa abraça com profunda sinceridade este modo de vida, algo que lhe faltava, principalmente em termos espirituais (aqui, uma pequena licença para estabelecer um paralelo religioso) torna-a mais completa. Uma religião que mostra ao convertido uma forma de pensar e ver o mundo de forma construtiva e saudável para corpo e mente. Além do mais, existem alguns “ritos cerimoniais” e formalidades da cultura oriental que realmente parecem ter apelo religioso, como reverência a fotos de mestres falecidos, altares xintoístas ou cartazes escritos em kanji.

 

Tou-rei: reverência à espada

…..Qual é conclusão que pode ser oferecida? É interessante manter a mente flexível em relação a opiniões políticas e humanas de forma geral. Certo e errado podem ser muito relativos, por isso é preferível pensar em termos de “positivo” e “negativo”. Se o praticante se torna obsessivo em relação à prática, existem conseqüências naturais que ele deve encarar e não são necessariamente boas ou más. O fanatismo é considerado extremista por estar longe de um centro mais equilibrado. Por exemplo: negligenciar a vida profissional e social constantemente em função de treinamentos definitivamente não agrega nada, pois exclui o praticante da oportunidade de por em prática seus valorosos conceitos morais ao auxiliar as pessoas e fazer parte de algo maior.

…..Por isso, é interessante hoje em dia que haja a busca pelo equilíbrio entre as todas obrigações, sem exageros e sem negligências. Afinal, atuamos em diversas frentes no mundo moderno: somos profissionais em alguma área, estudantes, somos filhos, somos maridos, esposas, amigos e seres que buscam um propósito e um lugar no mundo. Foi-se o tempo em que a dedicação máxima, do custe o que custar, no desempenhar de uma função era considerado correto e valorizado. Dar a vida pela causa poderia ser nobre, mas é impraticável num mundo onde não podemos nos dar ao luxo de sermos egoístas e acreditar que nossa existência e a responsabilidade sobre ela estão apenas em nossas mãos. Vamos ser mais livres…

04
out
10

Dois textos importantes para um verdadeiro artista marcial

Se todos os alunos que pisam nos dojos praticassem estes princípios de perseverança e dedicação teriam muito menos dificuldades.  Na verdade não só no dojo, mas na vida. Infelizmente não ocorre assim na maioria das vezes.  É mais fácil ter pena de si mesmo ou reclamar dos outros.  Será?

A Vantagem de um Longo Treino

A vantagem de um longo treino e de uma escrupulosa concentração no futuro: na hora das realizações estabelece-se um estado sonambúlico intermediário entre o fazer e o deixar fazer, entre o agir e o ser objecto de ação. Isso requer tanto menos atenção quanto é certo que, a maior parte das vezes, a realidade exige de nós muito menos do que imaginamos e, assim, encontramo-nos um pouco na situação do homem que, armado até aos dentes, ao travar uma luta, não tem necessidade, para vencer, senão de manejar ligeiramente uma única peça do seu arsenal. Com efeito, quem liga importância a si mesmo exercita-se no que é mais difícil para se tornar cada vez mais destro no que é fácil e poder ter a satisfação de triunfar, usando dos meios mais delicados e discretos. Ele repele, aliás, os expedientes grosseiros e selvagens, não se resolvendo a usá-los senão em casos de força maior.

Thomas Mann, in “As Confissões de Félix Krull”

Tudo Está ao Nosso Alcance

A vida traz a cada um a sua tarefa e, seja qual for a ocupação escolhida, álgebra, pintura, arquitectura, poesia, comércio, política — todas estão ao nosso alcance, até mesmo na realização de miraculosos triunfos, tudo na dependência da selecção daquilo para que temos aptidão: comece pelo começo, prossiga na ordem certa, passo a passo. É tão fácil retorcer âncoras de ferro e talhar canhões como entrelaçar palha, tão fácil ferver granito como ferver água, se você fizer tudo na ordem correcta. Onde quer que haja insucesso é porque houve titubeio, houve alguma superstição sobre a sorte, algum passo omitido, que a natureza jamais perdoa. Condições felizes de vida podem ser obtidas nos mesmos termos. A atracção que elas suscitam é a promessa de que estão ao nosso alcance. As nossas preces são profetas. É preciso fidelidade; é preciso adesão firme. Quão respeitável é a vida que se aferra aos seus objectivos! As aspirações juvenis são coisas belas, as suas teorias e planos de vida são legítimos e recomendáveis: mas você será fiel a eles? Nem um homem sequer, receio eu, naquele pátio repleto de gente, ou não mais que um em mil. E, se tentar cobrar deles a traição cometida, e os faz relembrar de suas altas resoluções, eles já não se recordam dos votos que fizeram. […] A corrida é longa, e o ideal, legítimo, mas os homens são inconstantes e incertos. O herói é aquele imovelmente centrado. A principal diferença entre as pessoas parece ser a de que um homem é capaz de se sujeitar a obrigações das quais podemos depender — é obrigável; e outro não é. Como não tem a lei dentro de si, não há nada que o prenda.

Ralph Waldo Emerson, in “Considerations by the Way”

Para fechar:

3 provérbios antigos:

“A inação entorpece qualquer faculdade”
“Todas as vitórias são frutos da perseverança”
“Sem firmeza e tenacidade, a teoria de qualquer projeto jamais deixará de ser apenas uma teoria”


15
set
10

1o o processo, não o produto

O processo é tão importante quanto as metas

O mundo moderno vem supervalorizando as metas. Todas as nossas ações são orientadas para o resultado, seja na vida profissional ou na pessoal. O problema de levar a vida dessa forma é que a meta é apenas um pequeno momento, que é atingida geralmente após um longo processo.

Se só ficamos felizes quando atingimos nossas metas, então seremos felizes por muito pouco tempo relativamente falando.

Um modo mais sábio de encarar a vida é valorizar o processo. Perder 10 quilos é uma meta louvável: fez bem para a saúde, para a beleza, para a autoestima etc. Só que isso não ocorre da noite para o dia. Para perder 10 quilos, é preciso perder um quilo antes. Quinhentos gramas antes. Um grama antes.

Cada ponto do processo deve ser aproveitado. Dele devem-se extrair lições, assim como quando se atinge a meta. O ponto final, na verdade, deve ser apenas mais um, o que fecha o processo. Mas ele é tão importante quanto os outros.

Não existe um caminho para a felicidade, para a realização. A felicidade é o próprio caminho.

08
set
10

Treinamento de Armas no Aikido Aikikai: Necessário?

Entrevista com Christian Tissier

Você considera o trabalho de armas parte integrante da prática do Aikido?

Fundamentalmente, não. Mas eu vou desenvolver o meu ponto de vista.

A organização Aikikai, como você sabe, não tem curso de armas e ponto final. Tem alguns bokkens se alguém quiser fazer alguns suburis, mas não é bom fazer muito e, sobretudo evitar fazê-lo em duplas.
Mas eu sempre fui muito interessado pelo espírito do ken, deste jeito de ir direto à ação especifica do kenjutsu, não circular. Eu tive a sorte de ser formado em kenjutsu pelo Inaba sensei no Shiseikan.

Mas eu não considero, que seja indispensável treinar armas, para treinar Aikido. É interessante usar o treino de armas, como um suporte lúdico, que desenvolve outra distância. Mas podemos dizer também que o boxe ou modalidades que usam chute e socos, são suportes que podem trazer algo que interesse neste sentido, mas não é a essência do Aikido.

Eu ensino sempre o ken nos seminários de uma semana por que interessa a muitas pessoas, mas é um ‘plus’, não é o essencial. Eu não sou contra aqueles que desenvolvem sistemas de armas, mas, Aikido é Aikido. As armas podem fazer parte, mas podemos ter alguém que nunca tenha treinado armas e que pratica um Aikido correto com as mesmas.

Entrevista com Tamura Sensei Aikido e buki-waza

A prática de armas é indispensável no Aikido?

O Aikido nasceu da prática de armas, o tai-jutsu e os buki-waza são apenas um. Se alguém se gradua no trabalho das mãos vazias, ele utilizará as armas corretamente também. E vice-versa. Mas é muito raro isto nos acontecer nos dias de hoje. Da mesma forma que algumas pessoas praticam bem na posição de pé, mas não o fazem com a mesma qualidade no suwari wasa, algumas pessoas parecem praticar bem com as mãos vazias mas revelam seus limites com uma espada na mão.

Sobre o mesmo assunto um trecho de uma entrevista com Shimizu sensei:

É importante o trabalho de armas no Aikido?

Eu não creio que seja. Hoje existe cada vez mais professores que ensinam o Ken, mas no tempo de O sensei, ele ficava zangado se nós praticávamos muito com a espada. Ele dizia:” O Aikido é o taijutsu, então estudem profundamente o taijutsu”. No treinamento é bom variar as situações de ataques, e neste sentido é útil trabalhar contra os ataques de Ken, Jô e Tanto. Mas o trabalho de espada contra espada não me parece necessário. As pessoas que querem praticar isso podem praticar o Kendo.

Hoje as pessoas falam de Aikiken, Aikijo, e aí reina uma grande confusão sobre o que é Aikido. A essência do Aikido é o taijutsu, é necessário manter este espírito. Mas podemos utilizar a espada para aprender o riai* e os os princípios.

Fisicamente e é mais confortável praticar o bokken ou a espada. Não se finaliza, nem projeta nem imobiliza. (Risadas)

*Riai é a harmonia dos princípios. Riai refere-se aos princípios mútuos dos movimentos encontrados no treinamento tradicional de Aikido. O movimento do corpo, dos quadris, das mãos e o kamae estão conectadas um ao outro.

03
ago
10

A compreensão do Básico

Uma deficiência comum no treinamento de hoje é a falta da prática dos Atemi, ou ataques em pontos vitais. Os Atemi são usados para enfraquecer ou neutralizar um ataque do oponente  para criar-se assim uma situação favorável na qual pode-se   executar uma técnica. Em muitas situações é virtualmente  impossível desequilibrar um oponente forte, suficientemente para aplicar uma técnica sem recorrer-se ao Atemi. Aqueles que afirmam que o uso de tais ataques (executados com o intuito de  tirar atenção do oponente do objetivo principal da técnica) é   muito violento ou “não é Aikido” ignoram os conceitos do Aikido  ensinados pelo fundador que dava grande ênfase sobre a   necessidade de tais movimentos durante o treinamento. Os Atemi   são uma parte essencial das técnicas básicas e também avançadas,   e não devem ser omitidos de sua prática.

O fundador sempre iniciava as sessões práticas com os exercícios  de Tai no Henko e Morote Tori Kokyo Ho. Ele terminava cada  prática com o treinamento de Suwari Waza Kokyu Ho. Os exercícios   de Tai no Henko constituem a base dos movimentos Ura, ou   movimentos girando, e os dois Kokyu Ho, ou métodos de respirar,   ensinam como respirar corretamente, a coordenação apropriada do   corpo e como estender o Ki intensamente.

No treinamento do Aikido nós abrimos nossos dedos para estender o Ki através dos braços.

Abrir os dedos é uma forma de aprender as técnicas básicas, um treinamento que permitirá a você executá-las sem usar qualquer    força. Abrindo os dedos quando seu pulso é subitamente agarrado torna-o mais grosso, e dá à você uma vantagem. Para aqueles  aprendendo defesa pessoal é dito para abrirem seus dedos quando  agarrados porque o braço torna-se difícil de segurar.

O Ki é algo adquirido naturalmente através da correta prática  dos fundamentos básicos.

Se você se preocupar de mais com o Ki, você será incapaz de  mover-se. O Ki se manifestará por si mesmo naturalmente se você   estiver treinando corretamente. Uma vez que você tenha  desenvolvido o Ki, este fluirá livremente através de suas mãos  mesmo quando seus dedos estiverem relaxados.

O fundador considerava as técnicas de Ikkyo até Sankyo como    sendo movimentos preparatórios ao Aikido. No Ikkyo você treina   seu corpo; no Nikyo você Dobra seu pulso para dentro estimulando  e fortalecendo as juntas; no Sankyo você move seu pulso para  fora na direção oposta. Através da prática destas técnicas, você  desenvolve um corpo capaz de derrotar um inimigo com um único golpe. Estas técnicas básicas são sua preparação, e o   treinamento nas técnicas do Aikido começa através delas.

Outra parte essencial do treinamento dos fundamentos do Aikido é  o domínio da entrada e dos movimentos de giro. Se você decide  avançar, você deve avançar totalmente. Se você decide girar para   trás deve fazê-lo completamente. É difícil avançar depois de  desviar um golpe, a menos que você possua uma vantagem em força.   Portanto, gire sempre que necessário, como quando estiver em uma   situação onde você seja incapaz de bloquear.

A prática de técnicas girando é também necessária para se   aprender como mover-se livremente.

Recentemente, o Termo “Takemusu Aiki” tem sido usado bastante livremente, porém parece que poucas pessoas compreendem seu     significado. Takemusu Aiki refere-se à um estado onde técnicas   nascem infinitamente como resultado do estudo dos princípios do  Aikido.

No treinamento do Aikido – que inclui técnicas de mãos vazias,    Aiki Ken e Jô – é importante fazer claras distinções. Estas   incluem as distinções entre Ikkyo e Nikyo, Omote e Ura, técnicas  básicas e Ki no Nagare, e técnicas aplicadas (Oyowaza). Em uma  recente viagem à Itália, experimentei executar tantas técnicas  quanto podia. Concentrando-me apenas sobre as técnicas básicas, Ki no Nagare, variações e técnicas aplicadas, acabei por   realizar mais de 4 centenas de técnicas, e estou certo de que onúmero teria subido para mais de 6 centenas caso tivesse   incluído técnicas partindo da posição sentada, Hanmi Handachi    (Atacante em pé, defensor sentado), e técnicas de contra-ataque.

Não importa quão esplendidamente as pessoas escrevam sobre  Takemusu Aikido, eles devem ser capazes de executar estas  maravilhosas técnicas por si mesmos, se eles estão sendo   considerados como professores. Se vocês continuam à praticar    assiduamente de acordo com o método tradicional, alcançarão o    estágio onde serão capazes de executar um número infinito de    técnicas desde as básicas até as mais avançadas.

03
ago
10

Keiko

A mente e a filosofia de Matsuo Haruna

Como artista marcial (pelo menos um jovem artista marcial), como pessoa que acredita e pratica o Budo, acredito ser muito importante o estudo da história e das origens da arte escolhida, e também das outras artes. Para mim, conhecer o máximo possível sobre quem, onde, por que e como em relação às raízes de uma arte marcial é crucial para a completa compreensão dela, o que eu creio que dá à prática um significado mais profundo e completo. O estudo da história das artes marciais permite que se pegue o que é antigo e o aplique ao que é novo; compreender o antigo – às vezes ancestral – princípio de nosso estudo nos dá a habilidade de encontrar uma razão para nosso treino de hoje. A sociedade, a época e as armas podem variar, mas os princípios do antigo permanecem os mesmos, como as raízes de uma árvore, afetando e influenciando a humanidade em um nível abaixo da superfície.

Acredito que o estudo de sua história também é uma forma de homenagem e respeito às pessoas que são os pioneiros destas artes. Todas as formas e estilos de combate começaram com estes indivíduos colocando totalmente suas energias criativas e suas vidas no desenvolvimento de uma forma física, mental, e espiritual de autodefesa. Mesmo que nenhum verdadeiro artista marcial ou sensei aceite esta forma de “adoração”, é a estes homens e mulheres que devemos nossas práticas.
Dito isso, decidi devotar este artigo a outro indivíduo que, do meu ponto de vista, serviu como inspiração e fonte de direcionamento para muitos Iaidoka. O que eu descobri sobre este homem é o que eu acho que deve ser compartilhado. Suas realizações e sua atitude em relação a keiko é algo que todos podemos usar como aprendizado. Este homem é Matsuo Haruna Sensei.
Uma das coisas mais impressionantes que descobri sobre Haruna sensei é que ele começou a treinar já com idade avançada. Ele nasceu em 1925, mas ó começou a treinar iaido em 1972 – com 46 anos de idade. É uma idade em que as pessoas acham que são muito velhas para começarem qualquer coisa, quanto mais começar a treinar uma arte marcial! Mas Haruna sensei fez isso, e obteve grandes progressos no curto período entre 1972 e seu falecimento em 2002. Ele recebeu a graduação de Hachidan, e o titulo de Hanshi, no Muso Jikiden Eishin Ryu.
Ele foi o professor exigente e diretor do Musashi Dojo de Ohara, que recebeu o nome do lendário espadachim Miyamoto Musashi. Ele participou de cerca de 250 competições locais e nacionais e de demonstrações no Japão; perdeu 12 vezes, ficou em 3º lugar oito vezes e em 2º lugar 28 vezes, e uma dessas vezes foi em sua primeira competição nacional em 1978, em que ele ficou em segundo lugar. Ele recebeu o prêmio de Melhor Espírito de Luta 45 vezes, e o prêmio Espírito de Luta Especial (que é acima do “Melhor”) 15 vezes. Nas demais vezes, ele venceu.
Apesar de seu impressionante registro de competições, Haruna sensei não treinava para shiai. Para ele, shiai era apenas outra forma de treinamento. Ele acreditava que não importava o que fosse, shiai – demonstração, competição, exame – ou keiko (prática), sua atitude deveria ser exatamente a mesma – e é essa atitude é o que você deve treinar, como se sua vida dependesse disso!! Haruna sensei acreditava que a chave para o desenvolvimento de seu treinamento é levá-lo a sério. Sem essa atitude, sua prática sofre, e sua habilidade também. É a concentração, e um profundo foco nos fundamentos, o que permite o avanço de uma pessoa.
Apesar de eu nunca ter tido a oportunidade de estudar ou treinar com Haruna sensei, agradeço por sua vida, sua influência e sua contribuição para o iaido e os iaidoka. Isso reforçou minha compreensão, e tenho certeza que de outras pessoas, das artes marciais.

Haruna Matsuo Sensei, shitsurei shimasu!!!

Tradução – Jaqueline Sá Freire (Brazil Aikikai – Hikari Dojo – Rio de Janeiro)