Archive for the 'lições extra dojo' Category

04
out
10

Dois textos importantes para um verdadeiro artista marcial

Se todos os alunos que pisam nos dojos praticassem estes princípios de perseverança e dedicação teriam muito menos dificuldades.  Na verdade não só no dojo, mas na vida. Infelizmente não ocorre assim na maioria das vezes.  É mais fácil ter pena de si mesmo ou reclamar dos outros.  Será?

A Vantagem de um Longo Treino

A vantagem de um longo treino e de uma escrupulosa concentração no futuro: na hora das realizações estabelece-se um estado sonambúlico intermediário entre o fazer e o deixar fazer, entre o agir e o ser objecto de ação. Isso requer tanto menos atenção quanto é certo que, a maior parte das vezes, a realidade exige de nós muito menos do que imaginamos e, assim, encontramo-nos um pouco na situação do homem que, armado até aos dentes, ao travar uma luta, não tem necessidade, para vencer, senão de manejar ligeiramente uma única peça do seu arsenal. Com efeito, quem liga importância a si mesmo exercita-se no que é mais difícil para se tornar cada vez mais destro no que é fácil e poder ter a satisfação de triunfar, usando dos meios mais delicados e discretos. Ele repele, aliás, os expedientes grosseiros e selvagens, não se resolvendo a usá-los senão em casos de força maior.

Thomas Mann, in “As Confissões de Félix Krull”

Tudo Está ao Nosso Alcance

A vida traz a cada um a sua tarefa e, seja qual for a ocupação escolhida, álgebra, pintura, arquitectura, poesia, comércio, política — todas estão ao nosso alcance, até mesmo na realização de miraculosos triunfos, tudo na dependência da selecção daquilo para que temos aptidão: comece pelo começo, prossiga na ordem certa, passo a passo. É tão fácil retorcer âncoras de ferro e talhar canhões como entrelaçar palha, tão fácil ferver granito como ferver água, se você fizer tudo na ordem correcta. Onde quer que haja insucesso é porque houve titubeio, houve alguma superstição sobre a sorte, algum passo omitido, que a natureza jamais perdoa. Condições felizes de vida podem ser obtidas nos mesmos termos. A atracção que elas suscitam é a promessa de que estão ao nosso alcance. As nossas preces são profetas. É preciso fidelidade; é preciso adesão firme. Quão respeitável é a vida que se aferra aos seus objectivos! As aspirações juvenis são coisas belas, as suas teorias e planos de vida são legítimos e recomendáveis: mas você será fiel a eles? Nem um homem sequer, receio eu, naquele pátio repleto de gente, ou não mais que um em mil. E, se tentar cobrar deles a traição cometida, e os faz relembrar de suas altas resoluções, eles já não se recordam dos votos que fizeram. […] A corrida é longa, e o ideal, legítimo, mas os homens são inconstantes e incertos. O herói é aquele imovelmente centrado. A principal diferença entre as pessoas parece ser a de que um homem é capaz de se sujeitar a obrigações das quais podemos depender — é obrigável; e outro não é. Como não tem a lei dentro de si, não há nada que o prenda.

Ralph Waldo Emerson, in “Considerations by the Way”

Para fechar:

3 provérbios antigos:

“A inação entorpece qualquer faculdade”
“Todas as vitórias são frutos da perseverança”
“Sem firmeza e tenacidade, a teoria de qualquer projeto jamais deixará de ser apenas uma teoria”


15
set
10

1o o processo, não o produto

O processo é tão importante quanto as metas

O mundo moderno vem supervalorizando as metas. Todas as nossas ações são orientadas para o resultado, seja na vida profissional ou na pessoal. O problema de levar a vida dessa forma é que a meta é apenas um pequeno momento, que é atingida geralmente após um longo processo.

Se só ficamos felizes quando atingimos nossas metas, então seremos felizes por muito pouco tempo relativamente falando.

Um modo mais sábio de encarar a vida é valorizar o processo. Perder 10 quilos é uma meta louvável: fez bem para a saúde, para a beleza, para a autoestima etc. Só que isso não ocorre da noite para o dia. Para perder 10 quilos, é preciso perder um quilo antes. Quinhentos gramas antes. Um grama antes.

Cada ponto do processo deve ser aproveitado. Dele devem-se extrair lições, assim como quando se atinge a meta. O ponto final, na verdade, deve ser apenas mais um, o que fecha o processo. Mas ele é tão importante quanto os outros.

Não existe um caminho para a felicidade, para a realização. A felicidade é o próprio caminho.

03
ago
10

Viva como as flores

O discípulo perguntou ao mestre:

“Mestre, como faço para não me aborrecer, com as pessoas? Algumas falam demais, falam de nossa vida, gostam de fazer intriga, fofoca, outras são ignorantes.  Algumas são indiferentes. Fico magoado com as que são mentirosas.  Sofro com as que caluniam”.

– “Pois viva como as flores!”, advertiu o mestre.

– “Como é viver como as flores?” Perguntou o discípulo.

– “Repare nestas flores”, continuou o mestre, apontando lírios que cresciam no jardim. Elas nascem no esterco, entretanto são puras e perfumadas. Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas. É justo angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros o importunem. Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora. Isso é viver como as flores.”

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A FLOR DE LÓTUS

De acordo com o Budismo, uma flor de lótus serve como assento aos que renascem no paraíso budista. No budismo, o lótus é o símbulo de pureza e perfeição da natureza búdica, inerente com todas as pessoas. “Assim como o lótus brota de dentro da escuridão da lama para a superfície da água, florescendo somente depois que se elevou acima da água e por permanecer imaculada sem se contaminar nem com a terra nem com a água que o nutriram, da mesma forma a mente, nascida do corpo humano, desabrocha suas verdadeiras qualidades( pétalas ) depois que se elevou acima das torrentes lodosas da paixão e da ignorância, e transforma as forças obscuras das profundezas em brilhantes e puros néctar da consciência iluminada.”

( Govinha, pg.89 in Philip Kapleau: Os três pilares do Zen. Ed. Itatiaia)

28
jun
10

Pense na Felicidade

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.

Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.

E quanto ao amor? Ah, o amor… Não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos amor, todinho maiúsculo.

Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.

É o que dá ver tanto cinema.

Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.
Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.

Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E, se a gente tem pouco, é com este pouco que vamos tentar segurar a onda, com humor, fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista, é fazer o possível e aceitar o improvável.

Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar.
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente.

A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio.
Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. se a meta está alta demais, reduza-a.
Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz.

Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.

Extraído do site Velho Sábio
03
jun
10

Hybris ou subir uma escada cujo degrau está quebrado

Por Leonardo Galvão

A pedidos, resolví botar em palavras aquilo que as vezes converso com meus colegas (e amigos) aikidocas, nada muito diferente do que já nos é conhecido, mas desta vez, ilustrado por mitos universais, reconstruindo os sentidos literais para além das metáforas já descorridas sobre eles e dialogando com princípios como ukemis, atemis, tenkans e irimis. Resolví que, para falar com aikidocas, propensos a equilibrar a tenacidade do espadachin, a diplomacia inteligente de um nobre e a serenidade de um monge (sim, isto é um clichê), nada melhor que assuntar os riscos da velha hybris, que em tantos excelentes heróis fizera as mão fraquejarem e as pernas tremerem.
Hybris é um termo grego arcaico, caiu em desuso, cujo significado era excesso, ou desafio, ou crise provocada por mania de grandeza, fato muito comum nos nossos dias, por vezes até enaltecido. É fácil de entender o que é hybris, basta lembrar da história do piloto de avião já experiente, cansado de fazer operações irregulares com o seu aeroplano e que, um dia não diferente dos outros, é acometido com a fatalidade. O herói é outro conceito arcaico e que sempre volta numa repaginação segundo os moldes da época. Os herois já foram virtuosos, já trouxeram a luz à escuridão, iniciaram a nova ordem, destronaram reis e salvaram as princesas (ou os tesouros, tem o mesmo sentido) da caverna dos dragões e torres inalcançáveis. O herói pode ou não lutar com o mal, contudo o maniqueísmo é um conceito do final do período clássico. Heroismo é outra história.
Ok, ok! Concetremo-nos na questão da hybris, por enquanto. Não nos fatarão exemplos a serem discutidos, assim como não faltam heróis nas histórias mítico-religiosas universais. De sumério-babilônicos a japoneses, da antiguidade as nosssos dias, exímios guerreiros e homens espirituais, uns respeitados pelas proezas e outros temidos pela força de seu braço, sõ que, mais cedo ou mais tarde o forte e o valoroso sempre encontra um desafio intransponível e, este cheio de orgulho, se lance ao inevitável: a derradeira queda.
Se ainda não está claro, vou pincelar alguns exemplos sem me prender no mérito moral, ideológico e cultural de cada um, mas me concetrarei nesse fenômeno que faz o humano verdadeiramente Humano, falo da queda, a imagem do terceiro animal que anda com três patas no enígma da esfinge, vai além da questão da velhice.
Enfim chegado o momento de narrar as epopéias dos guerreiros, me permito ir longe, no berço da civilização, para comentar a primeira narrativa heróica que este Mundo já viu. Refiro-me ao mito de Gilgamesh, um Hércules ou um Sansão primitivo, arquétipo dos heróis brutos e impiedosos, um Wolverine da antiguidade (salvo milhões de aspectos nessa comparação). Suas estórias eram contadas oralmente desde os primeiros reinos sumérios, mas foi no período acádio que as rapsódias foram talhadas em tábuas de escrita cuneiforme, enfim, um mito de força, coragem e crueldade que durante séculos teve seu nome esquecido no tempo e na areia da terra e dos povos que seu nome ajudou a construir. Gilgamesh, rei cruel, conquistador, inquebrantável, cuja tirania fez com que seus súditos suplicassem aos deuses que o fizessem parar. Como toda narrativa arcaica, essa história é construída através das repetições cíclicas, como são cíclicos os dias e as noites, o  nascer, o crescer e o morrer e etc, logo imagine quanto fez Gilgamesh para ter seu nome escrito na boca do sapo dos rios mesopotâmicos.  Gilgamesh vencia inimigos mortais e até os imortais, armadilhas preparadas pelos deuses anunaki contra ele desferidas, ou seja, nada podia com Gilgamesh.
Para enfim destruir o rei-herói, os deuses anunaki entraram em consenso de que só outro Gilgamesh poderia vencer Gilgamesh, e assim, com o barro negro do Tigre e Eufrates, construiram Enkidu a imagem e semelhança de Gilgamesh. Deixando a análise psicológica do mito, ao encontrar alguem igual a ele em força e aparência, temido nas florestas ao redor de seu reino, este se viu espelhado e insuflado, somando forças com sua contraparte selvagem, motivo que o levou depois à ruina de sua imagem. Enkidu era aquilo de que Gilgamesh não queria confrontar: o limite ou finitude de sua existência. Com seu sósia, Gilgamesh descobriu o que é a morte, sim, pois Enkidu viera a falecer depois de um confronto com o dragão mandado pelos deuses. Gilgamesh, cheio de hybris, faz a jornada em busca da imortalidade, mas como podemos concluir, mãos vazias foram  sua paga. Alguns historiadores e mitólogos fazem paralelo de Gilgamesh com inúmeros reis locais da antiguidade mesopotâmica, sendo fonte de inspiração para Ninrode, o rei caçador do Antigo Testamento.
O segundo personagem heróico que cai em desgraça pelas garras da hybris é Aquiles. Nas epopéias  troianas, Aquiles e retratado por Homero como um herói cheio de adjetivos, dentre eles a invulnerabilidade e o fato de ser semi-deus (filho de Tétis, deusa do Mar e do rei Peleu, de Mermela), embora tivesse sua mãe esquecido de banhar seu calcanhar no rio estige, crucial para o seu derradeiro fim. É bom esclarecer que na escrita homérica não havia a necessidade da esplicação de que um ou outro personagem era ou deixava de ser alguma coisa, pois seus nomes acompanhavam os respectivos atributos, logo, se você ler o clássico você já percebe de cara quem é o que na história. Náo existia verbo de ligação, logo Aquiles herói, Paris covarde (e etc e tal).
Voltando ao herói homérico Aquiles, o que é dito desse semi-deus é que ele era um herói que lutava pelo exercito de Menelau e Agamenom, reis gregos (ou Helênico, isso mostra a importância desse mito na formação da cultura grega), contrapondo-se à Heitor, herói troiano, mortal, que lutava pelos seus. O estopin dessa contenda foi o rapto de Helena (a iluminada pelo Sol ou Helios) por Paris Alexandre, principe troiano e juiz no episódio do Pomo da Discórdia, pacto com a deusa do amor Afrodite pela proclaração da divindade mais bela do panteão helênico, para o descontentamento de Palas Athena e de Hera, coicidentemente patroa de Tétis, mãe de Aquiles coração de Helena, em troca do amor de Helena por ele.

No confronto entre Aquiles, o invulneravel e Heitor, o mortal e irmão de Paris, também herói, ambos lutavam por pontos de vista contrários: os respectivos interesses nacionais. Previsivelmente, Aquiles venceu Heitor, mas possuído de hybris, manchou sua vitória negando ao herói troiano um enterro digno de tal porte e coragem, esquartejando seu corpo e arrastando ao redor da muralha da cidade, para sofrimento e desespero de seus familiares.  Algo como um capitão Nascimento negando um belo enterro ao traficante Baiano.  A desgraça de Aquiles não foi a flecha envenenada em seu calcanhar, foi a hybris em campo de batalha ou refrear seus impulsos diante de uma batalha homem a homem.
O terceiro herói que me ocorre, enquanto escrevo, vem das fábulas arturianas, uma miscelânia de lendas celtas,  romanas, anglo-saxãs e normandas, de carater pagão e cristão que se perde na origem e no tempo.  Como os primeiros textos sobre as lendas arturianas e o reino fictício de Camelot (ou Cameloot, anagrama notaricon de Malkut, o reino em hebraico) foi escrito em francês, e um heroi de orgiem franco-normanda recebia todo o destaque nessa edição: o cavaleiro da carruagem, o cavaleiro Branco Lancelot du Lac. Seus feitos e proesas ultrapassavam a descrição, sendo considerado por Arthur seu maior e mais valoroso dos cavaleiros da távola redonda, cuja missão era relembrar os feitos arturianos e ir à busca do cálice sagrado, ou Graal. Cobiçado pelas mulheres do reino e estrategicamente requisitado por Arthur, Lancelot foi acometido de um feitiço pagão que o fizera tomar decisões intempestivas, dentre elas o casamento mal fadado com a princesa de Listenoise, reino de Pellinore, seu pai e conseguinte, encontros furtivos com a rainha Guinevere, esposa do Rei Arthur, a quem Lancelot jurou fidelidade.
Não foi a traição o motivo da queda do herói mais valoroso da távola redonda, mas a hybris, neste caso insuflado pelos feitiços de Morgana Le fey, a quem se atribuí a morte de Merlin, feiticeiro e conselheiro do Rei e de gerar Mordred, filho de sua estratagema para tirar o poder real de Arthur. Por feitiçaria ou por orgulho insuflado, a queda é a destruição da virtude. Uma curiosidade sobre a influëncia do mito de Lancelot: sua imagem foi perpetuada no baralho de cartas figurando o Valete de espadas, centrado  no mito da famosa Escalibur, segundo algumas interpretações correntes, enquanto outras o atribui ao naipe de ouro, associando-o à Camelot, o Reino.
Mas, enfim, o que tem haver a hybris com o aikido? Essa pergunta está presente na condução de tarefas simples que usamos em nossos exercícios e nem sempre nos damos conta dela. Não é necessário aprender japonês ou virar samurai para perceber que a disciplina que o aikido transmite vai muito além da melhoria postural e da ausência de força bruta nos movimentos. O tai sabaki (movimentação corporal, tradução livre), por exemplo, transmite-nos a necessidade de conduzir nossos corpos e mentes para uma direção ou mudarmos nossa postura frente a conflitos desnecessários. Não cabe, no espaço da academia, exercitar algo parecido ao “shin sabaki” (tradução livre para movimentação do espírito), mas podemos evitar um preconceito acerca daquilo que não nos é interessante ou familiar. Agir de forma bruta frente aos problemas relacionais cotidianos, ignorar o impacto das diferenças como transformador cultural e social e apelar para soluções violentas quando existe lugar para uma conversação é como estar imerso na hybris e não ter parâmetros outros senão agir pela sobrevivência (do ego). Contudo, em hybris a queda é iminente e nenhum rolamento ou técnica para tal (ukemi) lhe será válido, pois o chão não está aos seus pés, o ego  insuflado distorce sua imagem e a queda elimina qualquer possibilidade de aparo. Compartilhamos da mesma condição humana: a imperfeição. Aprimoremos nossas técnicas e incorporemos seus ensinamentos na sutileza do manuseio com ego. Isto é um convite e uma tarefa heróica.

Leonardo Galvão é artista e tecnólogo, praticante de aikido a cerca de 3 anos.
16
maio
10

Ai Inochi Sakurai

Origem

Sua origem é da casta dos Samurais. A data de seu nascimento é incerta, alguns pesquisadores datam seu nascimento por meados de 1583, na província de Mimasaka no Japão. Seu Pai era um Bushi e sua mãe uma Ninja Kunoichi.

Infância e Adolescencia

Sua infância foi complicada, criado no meio de duas castas opostas teve que aprender filosofias conflitantes. Uma educação dos Bushi e dos Shinobi. Ao chegar na fase adolescente Sakurai fez sua opção pela casta dos Shinobi trabalhando para a família de sua mãe durantes anos.

Adulta

Ao chegar na fase mais adulta por volta dos 30-35 anos deixou sua província para viver com os Monges Yamabushi. Descidido a aprender segredos de diversas áreas se especializou na área da vida e da mente. Quando voltou do isolamento com os Yamabushi, Ai Inochi Sakurai portava duas Tora-No-Maki, correspondente a VIDA e MENTE. Em sua fase adulta fez uma peregrinação por todo o Japão mandando Tegami (carta) a varias pessoas, falando sobre saúde, aconselhamento e sociedade.

Fase Negra

Como todos seres humanos Sakurai teve seu lado negro. Como especialista em assassinatos na adolescência, foi responsável por vários assassinatos em Kyoto e em Osaka. Lutou em Sekigahara pela colisão de Tokugawa e matou centenas de estrangeiros no Sakoku. Após perder uma luta para um desconhecido de sua terra natal foi morar junto aos Yamabushi.

Palavras de AI Inochi Sakurai

Algumas Citações de Ai Inochi Sakurai em suas Tegami.

“Viva como se fosse uma estrela a cortar o céu negro e busque o conhecimento como se fosse uma cerejeira centenária, cujas flores geram esplendor e admiração no mais frio homem como na mais quente mulher.”

“A Mente é base do Espírito e da Alma, assim como o corpo é sua morada.”

“Uma mente que não teme criar é uma mente bela e bem construída em sua infância”

“Um homem que não trabalha seu corpo não consegue trabalhar a mente pois um depende do outro para evoluir e ascender”.

“Os pés nos levam para o monte, os olhos contemplam o horizonte, a mente guarda toda a fascinação do momento em nossos corações”

“Os seres humanos são imperfeitos, problemáticos e confusos. Por isso admiro o ser que o criou pois soube fazer cada um diferente do outro, dando a todos nós a oportunidade se ser especial.”

“ Amar é escolha racional, nós escolhemos amar uma mulher por suas qualidades e sua beleza. O homem que diz que o coração o controla é fraco e futuramente um escravo da infidelidade. Pois amar, felicidade e benevolência, são ações que nascem em nossa vontade e se transforma em atos de sabedoria quando temos coragem de assumir as conseqüências.”

Existem vários fragmentos de Ai Inochi Sakurai, fragmentos que falam sobre muitas coisas desde Amor, passando pelo corpo humano e administração familiar até sobre táticas de guerra e assassinatos.

22
abr
10

Só de passagem…

Conta-se que no século passado, um turista americano foi à cidade do Cairo no Egito, com o objetivo de visitar um famoso sábio.
O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.
– Onde estão seus móveis? Perguntou o turista.

E o sábio, bem depressa olhou ao seu redor e perguntou também:

– E onde estão os seus…?
– Os meus?! Surpreendeu-se o turista.
– Mas estou aqui só de passagem!
– Eu também… – concluiu o sábio.

“A vida na Terra é somente uma passagem… No entanto, alguns vivem como se fossem ficar aqui eternamente, e se esquecem de ser felizes.”

“NÃO SOMOS SERES HUMANOS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL… SOMOS SERES ESPIRITUAIS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA HUMANA…”

04
abr
10

Koshukai e Gashuku

Yudanshakai:  A maioria dos alunos conhece o termo: Treino de faixas-pretas. Mas vamos falar dos termos Koshukai e Gashuku.

Koshukai:  Seminário e treino geral, cujo principal objetivo é fornecer informações que contribuirão para um melhor aproveitamento do participante. Koshukai também promove a integração entre os praticantes de vários Dojos.

Poderão participar do Koshukai todos os praticantes independente da graduação.

Gashuku: Visa o aprimoramento técnico dos praticantes e professores. O objetivo do gashuku é estimular o potencial individual através de intenso treino e esforço coletivo, compartilhando as dificuldades e obstáculos, na busca do aprimoramento técnico. Poderão participar do gashuku todos os praticantes independente da graduação.

Definições literais:

講習会 (koushuukai) – こうしゅうかい – classe, pequeno curso;

Onde:

講 (Kou) – leitura, conferência, treinar;
習 (Shuu) – aprender;
会 (Kai) – encontro, reunião, associação.

合 宿 (gasshuku) – がっしゅく – pousada, habitar juntos, campo de treinos.

Onde:

合 (Gatsu) – juntar, unir;
宿 (Shuku) – pousada, alojamento, moradia.

Em uma abordagem superficial, podemos dizer que Kôshûkai se refere a um encontro “rápido” e que Gasshuku faz menção a um encontro mais demorado (no qual há necessidade de “habitar juntos”).

03
abr
10

shushi não é sashimi

Dentre os que gostam muitos não sabem a diferença entre sushi e sashimi. Eu tinha postado um link sobre isso em 2003 mas o site saiu do ar. Por coincidência, desde terça-feira tem chovido gugonauta no PdBUT justamente procurando por isso – eu desconfio que é por causa da 11ª prova do Aprendiz 5, niqui a tarefa era gerenciar um restaurante japonês em São Paulo.

Grossíssimo modo, a base do sushi é o arroz. Não existe sushi sem arroz [e do jeito que vão os preços do arroz tipo japonês no mercado, logo não existirá mesmo]. Na foto que abre este post estão dispostos alguns tipos de sushi; cada formato recebe um nome e, dependendo do recheio, ainda um outro nome. O enrolado fino com alga por fora com apenas um recheio é o hossomaki: se o recheio for de atum é o tekamaki, se for de pepino é o kappamaki, etc.

O oniguiri, que já mereceu post exclusivo no PdUBT, pode ser feito de arroz puro, recheado, coberto, grelhado… com umeboshi, com missô, com natoo, com ovas de salmão, com fatias de polvo, com sashimi – e talvez daí venha a confusão.

O sashimi – com SA de sapato, por favor, e não XA conforme ouço muito – [também grossíssimo modo] é peixe cru.

Os sashimis mais tradicionais no Brasil são os de atum [vermelho amarronzado], salmão [cor de… errr… salmão], cavalinha [carne branca com pele prateada], pargo… mas outros peixes de carne firme podem ser usados. Eu troco atum por tilápia a qualquer hora, por exemplo.

Tanto no caso do sushi quanto no do sashimi a apresentação bonita conta muitos pontos [a gente também come pelos olhos, né? às vezes até literalmente, quando enche a cara de saquê e cai de testa na mesa, mas xápralá].

Resumindo: nem todo sushi leva sashimi.

Outra confusão que bastante gente faz é achar que todo sushi deve ser molhado no shoyu: não. A intenção do sushiman é que a pessoa identifique, diferencie os sabores, até os mais delicados. Regar sushi com shoyu deixa tudo com o mesmo gosto; pra que se dar o trabalho de combinar os ingredientes então?

03
dez
09

Demonstração técnica

Resolvi chamar o exame de demonstração técnica em minhas últimas mensagens a cerca de exames..  Por que? Muito simples:

No nosso sistema o Sensei(s) da banca não tem a preocupação de reprovar ou aprovar voces.  Se eu, como professor, indiquei dificilmente será reprovado o aluno. Pode acontecer claro, mas não é muito provavel. Nesse sentido então eu como instrutor sou mais o examinado, que os alunos. Mas ele também me conhece muito bem e sabe do nível técnico que tentamos manter e passar. Tanto que a partir do ano que vem os exames de voces ficarão mais a meu cargo.. E se eu conheco muito bem os alunos do dojo em tese, não seria necessário exame. Mas é. Não tanto pelo professor, não tanto pelo exame…

É a oportunidade de retribuir a todas as horas dedicadas a nosso desenvolvimento, a hora de demonstrar até onde polimos nossa técnica e demonstrá-la para toda a comunidade do dojo que está prestando atenção em você. O exame de faixa é o agradecimento do avaliado. Ao professor que o ensinou. Aos amigos do dojo que o ajudaram, e mesmo a sua familia que o apoiou, estando ou nao alguem da mesma por lá. E não esquecendo: É uma satisfação pessoal interna poder estar ali nesse momento.

Por isso tenho chamado o exame também de demonstração técnica.